Sou avesso à exposição de alfaias agrícolas e outros objetos enquanto regra, como se o passado estivesse reduzido ao trabalho rural, de sol a sol. Todas as aldeias, como a minha, têm uma História que não pode ser contada apenas e só pela visão de um arado, de um ferro de engomar, de um prato recuperado com agrafos (chamavam-lhe "gatos"!), de um alcatruz, etc, etc - podia continuar a citar objetos usados pelos nossos antepassados, trazendo à memória um pouco da minha infância ,repartida pela aldeia e umas quantas visitas a Almada, onde tinha familiares.
O sonho ocupa-me a mente quando recortes da "Comarca de Arganil" - com a bonita idade de um século! - ou imagens como a que escolhi para ilustrar esta croniqueta, chegam às minhas mãos.
- "Lavadeiras" - chamo-lhe assim porque a fotografia retrata a ocupação de algumas mulheres durante determinado período do verão, quando os "senhores do Chiado" vinham passar férias ao palacete da família Nunes dos Santos. Acrescento: os fundadores dos Grandes Armazéns do Chiado, de boa memória, eram naturais daqui, do Barril de Alva, uma aldeia maneirinha nos seus 3,3 kms, bem servida de acessos e de outros pequenos "luxos", que se orgulha do "seu" rio Alva e de algumas das pessoas que por cá ergueram obra de relevo, a vários níveis, tendo em vista o bem estar do povo.
Na imagem, salta à vista uma roda de alcatruzes que, durante o estio, alimentava as várzeas através de levadas com a água a transbordar. No concelho de Arganil havia dezenas destes engenhos - hoje, no meu sítio, existe um, decrépito, triste, sem uso, mas bonito como cenário. Talvez lhe deem vida na próxima primavera...
É bom de ver que o meu sonho passa por trazer para a sala de memórias documentos onde possamos (re) descobrir as nossas origens e "conviver" com os nossos antepassados.
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