30 de novembro de 2013

"Amesterdão - ainda te amo"! Rob Horree - reencontro


Em 2008 entrevistei Rob Horree para o jornal "Correio da Beira Serra", onde assinava uma secção intitulada "Figuras". 
Cartunista de renome no seu país de origem, Holanda, Rob Horree colaborou com poetas e escritores, com realce para o laureado Guerrit Komrij, residente em Vila Pouca da Beira, onde faleceu em 2012.
Este domingo reencontrei-o na "Venda de Natal" organizada pelo casal Arnold e Marion na Quinta  de Santo António, no Barril de Alva, de que são proprietários.
Rob Horree, na época,em 2008,  expôs no "Ritual Bar", alcançando enorme sucesso.
Recupero a peça de jornal pela estima que guardo do artista.

Como um funâmbulo que passeia pela corda suspensa sem rede que o proteja de uma queda, Rob Horree desenha sem esboços e não utiliza a borracha para apagar pontos e traços – tudo parece estar no sítio certo, e o resultado final é excelente à vista.
Da sua imaginação nascem, na verdade, peças que, pelo conteúdo, podem satirizar determinada situação, outras ostentam sentido de humor, e há as que decalcam a sensibilidade do autor.
Rob descobriu há mais de quarenta anos os desenhos de Bosc e outros cartunistas, e fez deles exemplos a seguir. As ideias, embora simples, eram diferentes: narizes grandes, os olhos eram pontos, e a figura sempre a mesma – apenas mudavam as posições e as situações retratadas. Bosc e Giles, são os seus ídolos de menino.
– “É muito difícil para mim explicar que estes desenhos não têm nada a ver com arte, ainda que, às vezes, a “não arte” possa atingir maior perfeição do que é considerado arte. Portanto, o que eu faço, na linha dos autores que citei, é uma coisa diferente…”.
Rob, sempre de sorriso franco, encolhe os ombros, fica-se pelo raciocínio simples e não se preocupa com adjetivos ou pormenores. Diz que é assim no seu dia a dia – sempre foi assim, insiste.
Se o gosto pelo desenho vem do berço, não sabe; ainda menino o entretenimento preferido era brincar aos “desenhos”. Lembra-se, por exemplo, de aos dez anos ter feito banda desenhada, que guardou numa caixa de charutos do pai. Infelizmente, a obra perdeu-se…

Amesterdão: ainda te amo
Rob Horree nasceu perto de Amesterdão, Holanda. Aos dezasseis anos começou a trabalhar em agências de publicidade e reservava as noites para frequentar a Rietvel Academia – escola de artes onde aprendeu os “segredos dos primeiros traços” e a desenvolver a imaginação que se mostrava fértil.
– “Vivia num quarto e uma vez, depois de o arrumar, pus ao lado do caixote do lixo, na rua, uma pasta com todos os desenhos que tinha feito na escola. Mais ou menos um ano depois, a senhoria encontrou-os num antiquário e comprou-os por muito pouco dinheiro. Fiz isso outras vezes, deitava-os fora, perdi-os para sempre….”.
Amesterdão é uma cidade multifacetada e, para o espírito curioso do Rob, o Stedelijk Museum (Museu de Arte Moderna) era um fascínio que não se cansava de visitar.
– “Fui lá mais de duzentas vezes, toda a gente me conhecia, dos zeladores aos guardas. A minha vida era assim, entre o trabalho, a escola, e as visitas aos museus. Tinha dias de trabalhar, como freelancer, doze horas”.
Caminheiro do mundo por excelência, conta estórias incríveis das suas viagens. 
– “Cheguei a Israel sem dinheiro e para conseguir trabalhar procurei a redacção de um jornal em língua inglesa. Nesse mesmo dia consegui um emprego: desenhar letras em hebraico com estilos diferentes. Tinha, na altura, vinte e dois anos e fiquei lá durante um ano. Depois fui para a Irlanda, voltei à Holanda, fui à Austrália – um país com uma luminosidade fantástica – várias vezes, e tenho viajado por outros países na companhia da minha esposa, que é australiana.
 Há doze anos que reside em Portugal, na “Quinta das Mestras”, entre Nogueira do Cravo e Bobadela; é aqui que, afiança, gosta de viver e é daqui que parte à descoberta de novos horizontes.
– “Portugal é um país muito bonito, eu e a minha mulher gostamos muito de conhecer outros sítios, e em Junho espero ir ao Minho. Ao Algarve já fui duas vezes de bicicleta, uma sozinho, outra com outros amigos. Sou sócio do Clube de Caça e Pesca de Oliveira do Hospital e quando posso, saio por aí de bicicleta” .
Este ano volta ao Oriente; embora de férias ”… gosto de olhar à minha volta e receber inspiração para os meus trabalhos”.
A distância do país natal não impede que continue a produzir a “sua arte” e a editá-la na Holanda; exposições, do estilo da que tem patente em Oliveira do Hospital, apenas numa ou noutra ocasião foi possível conciliar trabalho, viagens e mostras em quantidade razoável.
Em Portugal é a primeira vez que expõe e com êxito absoluto, por isso se diz “encantado com a aceitação do público, sobretudo das comunidades belga e holandesa”. Os portugueses, fascinados com as obras expostas,  gabam-lhe o talento.
O próximo passo será a ilustração de um livro de poesia do jubilado escritor holandês, Guerrit Komrij, também radicado entre nós.
Pergunto-lhe se pensa regressar à Holanda. Responde de imediato: 
– “Não, nunca mais. Eu e a minha esposa gostamos muito de ir lá, mas para viver, estamos muito bem aqui”.
Há saudades, lembranças, naturalmente, e quando ouviu alguém dizer na mesa do lado, que estava de regresso ao seu país em trabalho, não se conteve:
– “Vai para a Holanda? Então quando chegar a Amesterdão diz à cidade que ainda a amo”! A Rita, por certo lembrou-se do João Villaret e foi dar o “recado”, não a Lisboa, mas à cidade dos canais.
Carlos Alberto



16 de junho de 2013

Juntas para sempre








Em Fevereiro, a minha mãe "ausentou-se para parte incerta". 
Hoje, disse "até um dia" à  D. Etelvina, senhora por quem tinha  enorme respeito e  consideração - havia mesmo um género  de amor que não sou capaz de definir...
Por todas as razões, partilho o sentido adeus da neta,  Ana Andrade, a quem deixo o meu apreço pela erudição das palavras...
Amigas como eram, a Natália e a Etelvina voltam a "estar juntas". Agora, para sempre,,,
C.R.

5 de maio de 2013

Rosas, "jarros" e uma pomba branca

Mãe:
Olá, espero que se sinta muito, muito bem,  esteja onde estiver. Como sabe, hoje é o seu dia - assim foi decretado, como se uma mãe tivesse necessidade de  um dia apenas para o ser e merecer: mãe que é mãe, É MÃE TODOS OS DIAS, mesmo quando, fisicamente, não está presente, como é, agora, o  caso!...
Como sabe (as mães "sabem sempre tudo e de tudo"!), mondei os morangueiros, semeei feijão (daquele que guardava no saco, do ano passado...), alface, "amores perfeitos" e coentros. "Desenrasquei-me", vamos lá  a ver o que sai dali...
A vizinha deu-me um braçado de couves para o (futuro) "caldo verde" e já estão plantadas no sítio do costume, e ontem, quando cheguei a casa, notei que alguém veio plantar meia dúzia de alfaces, já crescidas, junto aos feijõess. Quem terá sido? A Maria ainda não me disse nada..
... E pronto: vou começar o dia fora de portas; já cortei duas rosas vermelhas, das que crescem junto ao pombal, e meia dúzia de  "jarros" para enfeitar as jarrinhas no seu  jardim particular, sobranceiro ao Urtigal...
Ah, é verdade: foi ter consigo uma das nossas pombas brancas? Esta manhã, quando fui passar "revista" ao quintal, uma delas  não deu sinal de vida e eu disse  de mim para mim: se calhar foi ter com a mãe Natália...
Beijinho, até já.

Guimarães .:



12 de janeiro de 2013

"Vigaro cá, vigaro lá"

Recuei na memória, ao ano de 1981 e à Lena d'Água, que fez sucesso com uma musiquinha muito bem engendrada, a ponto de emprestar o título ao lado "A" do single "Vigaro cá, vigaro lá".
Recorri ao you tube  para recuperar o tema, que nunca foi um dos meus preferidos, diga-se de passagem - há outros mais agradáveis ao meu ouvido, que ainda cantarolo sempre que os ouço, como "Olha o  Robot" , do tempo do grupo "Salada de Frutas". Não importa: a intenção é inspirar-me no cabeçalho da letra para rabiscar meia dúzia de linhas que me vieram à ideia a noite passada, depois de atentamente ouvir a reportagem da RTP sobre a  esperteza e capacidade da inteligência de um tal  Silva - Artur Baptista da Silva, para melhor identificação do burlão.
Pensando bem, da minha lavra, não há muito a a acrescentar aos comentários com que a Comunicação Social mimoseou  a capacidade de absorção  dos feitos terrenos praticados pelos alienígenas, que os há, sem dúvida - não lhe conhecemos a fisionomia, de facto, mas é bem possível que convivam connosco, travestidos de qualquer coisa, como ministros de pacotilha, dirigentes políticos de aviário, professores/doutores de vão de escada, bacharelados  de fm de semana, artistas sem talento, ou mesmo falsos Cristos...
Sendo sábado, sem sol que entre pela vidraça do meu quarto, e ainda por cima manhã cedo, entendo que não estão reunidas  as condições  para sorrir, de mim para mim, mas penso no sorriso de quem o afivela nesta madrugada (às nove da manhã, para mim, ainda é madrugada!), depois da prática de mais uma patranha: os vigaros não têm hora nem local para  consumar a  suprema e lucrativa arte do engano!
A esta hora, o tal Silva - Artur Baptista da Silva, para melhor identificação do burlão - se ainda não fez uma das dele, atrasou-se...