31 de dezembro de 2005

"Balancê"



A tarde deste último dia de 2005 foi passada em viagem. Pouco trânsito, o sol brilhava meio envergonhado, e eu, de bem comigo e com o mundo, conduzi devagar.
Tinha o rádio ligado e ouvia a "Antena 1". À hora certa, começou um programa "ao vivo" com a Sara Tavares.
Sei de quem se trata; apareceu no meu mundo ainda catraia, segui o seu percurso como autora e intérprete, mas o modo como desenhava o espírito, fascinava-me.
Conhecia as suas raizes religiosas, imaginava que o sucesso fosse o bastante para alterar o seu percurso de "louvores", crenças e mensagens.
- Não alter
ou! O sucesso foi uma benção e a Sara continua a dizer (e a cantar) "direito por linhas tortas" que pode "...fazer tudo, mas nem tudo lhe convêm.."!
... Neste "Balancê" ela voa para longe, para muito longe...
O CD, editado na Holanda, será um êxito, mas a Sara continua a somar garantias de menina equilibrada: segura de si e dos valores que defende, eloquente, calma, terna, deixou respostas que definem as (os) predestinadas (os) .
Para mim, foi um excelente fim de tarde.

28 de dezembro de 2005

"As Minhas Asas"

Foto: Nuno Botelho

A estória conta-se em poucas palavras: ninguém (?) tem dinheiro para manter esta casa como memória de um passado rico de cambiantes sociais. Nem o Estado - dizem!
Um óptimo tema para discussão.

Um dia destes a casa vem abaixo.Nela viveu e morreu o autor deste belíssimo poema. Quem foi?

As Minhas Asas

Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
— Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
— Veio a ambição, co'as grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
— Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essas luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
— Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.


João Batista Leitão de ...

23 de dezembro de 2005

Bom Natal!



...Aos lugares comuns acrescento mais uns "trocados": saúde, trabalho, amor (com ternura, carinho e entendimento...), paz, e só coisas muito boas em 2006 - é o meu desejo para todos.

22 de dezembro de 2005

Leiam!

Por favor, corram para este blog. Depois digam que não sou vosso amigo...
tp://www.causa-nossa.blogspot.com/

Não gostei...


... Não gostei das insinuações do dr. Soares durante o debate com o dr.Cavaco; apesar das diferanças, o segundo tem direito ao respeito cívico - não pode valer tudo em política! Chamem "animal político" ao dr. Mário, mas acrescente-se mais qualquer coisa, talvez... racional!

20 de dezembro de 2005

Memórias

O peso dos anos tem a importância e o valor do trajecto que percorremos.
O carrego pode ser pesado se a vida foi madrasta, ou leve se a fortuna teve sorrisos de boa vizinhança.Em qualquer dos casos, a memória funciona como arquivo de todas as coisas, boas e más; por vezes, de forma voluntária, recordamos outros tempos, perto ou longe do momento presente, outras é o acaso que nos faz lembrar o passado.
Casualmente, hoje, encontrei na mesa de um bar um jornalinho que, confesso, já não desfolhava desde os tempos em que ia à Missa, aos domingos. Chama-se O AMIGO DO POVO, é editado pela Diocese de Coimbra, e tem de vida noventa anos!


São duas folhas "A4", de conteúdo evangelizador, naturalmente, e é informativo quanto baste.
Tinha (e tem!) uma secção que lia com enlevo : "Ao calor da fogueira" - diálogos simples e moralistas, como o da edição 4280, do dia 11 deste mês de Natal.
De tanto querer saber ( e nada sei!...) tornei-me agnóstico, mas este jornalinho transportou-me à infância na minha aldeia, ao padre Januário, às brincadeiras do pião e aos futebois no largo da escola, às reguadas da professora Georgina e aos seus preciosos ensinamentos, à primeira namoradinha, ao Peixoto (a quem sovei de raiva, certa tarde, por causa da Teresa que era miúda de alguma beleza e sorriso brejeiro), aos passarinhos presos nas armadilhas, aos mergulhos no rio, ao Américo Cigarrada ( ... os peixes que agarrava à mão, só para me satisfazer os desejos!...), à avó Virgínia, à mãe Natália...
E O AMIGO DO POVO era o meu jornal de domingo.

16 de dezembro de 2005

ÍNDICO

* Baía do Espírito Santo *




Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
___________

(...) Mário de Sá Carneiro
Excerto do poema"Quase"

15 de dezembro de 2005

Prenda (s) de Natal!

O país - o nosso país! - afinal não está de tanga nem anda de calças na mão, à míngua de euros!
Vejamos:
- um novo aeroporto
- comboios de alta velocidade
- três novos hospitais em Lisboa.
Isto para "falar" apenas das (grandes) obras onde o Estado irá ter intervenção directa; mas há ainda uma nova refinaria em Sines, graças a investidores estrangeiros. Aqui, o Estado só tem de emitir as respectivas autorizações e a Câmara de Sines as licenças necessárias.
O Primeiro Ministro descobriu, possivelmente, uma mina de ouro, e vai daí ordena aos seus rapazes:
- Mãos à obra! Quero ficar na História de Portugal com letras garrafais e estátua na rotunda, como o Marquês!
Quanto às letras, também o Marquês (de Pombal) deve ter assinado algumas, e foi (também) assim que reformulou Lisboa; estátua é fácil - difícil é escolher a rotunda!...
Mas isso é coisa de somenos importância, derivado do facto (como diz o meu presidente de Junta) de só erguerem estátuas a figuras públicas após a (sua) morte.
Entretanto, sempre irão nascendo mais rotundas e não consta que o nosso primeiro tenha maleita de qualquer espécie, capaz de o levar à tumba nos tempos mais próximos.

12 de dezembro de 2005

... E o telefone mesmo à mão!


Volto à nostalgia para situar um ponto no Índico: Moçambique!
Foi naquele país encantado por deuses de múliplas facetas estéticas que me descobri como homem; cresci e quase completava determinado cíclo da minha existência quando valores mais altos se levantaram e retornei, em boa companhia (fomos milhares!), à casa onde nasci neste ponto da Europa, longe do Atlântico que levaria saudades à Baía do Espírito Santo em barquinhos de papel - fosse eu Pedro na lenda da Quinta das Lágrimas e teria chamado à minha cidade, Inês! Mesmo assim, continua rainha dos meus sentimentos, sonhos e ideais...
Na falta de ondas e marés, sem correntes de feição, recorro à ciência deste tempo para estar mais perto da minha gente, e ouço os sons que chegam do outro lado do mundo, aqui mesmo: basta um "click" e chego a casa!
No serão da última noite, tive companhia de elevado grau e qualidade - do locutor de serviço ao homem da técnica, de Villaret a Manuel Alegre, de Pedro Abrunhosa à "ELisa Gomara Saia", interpretado por voz genuína, sem trejeitos.
...E o telefone mesmo aqui à mão!
Num impulso, marco um número.Espero dois, três segundos:
- Bom dia, fala da Rádio Moçambique.
.............................
Eram quatro da madrugada na "minha terra"...

9 de dezembro de 2005

O sonho (sorridente) da fantasia!

Há "novidades" no futuro do nosso país, se forem credíveis as sondagens da noite passada à saída dos portões do Estádio da Luz.
Por larga maioria, deseja-se Filipe Vieira como primeiro ministro de Portugal!
É simples e lógico o raciocínio dos inquiridos (cerca de sessenta mil!!!), vejamos:
1- Cavaco Silva ganha a presidência da República e, como deseja vingar-se da má acção praticada junto do PSD/Santana Lopes por Jorge Sampaio/PS, dissolve o Parlamento e convoca eleições.O Luís Filipe Vieira, qual Berlusconni à portuguesa, candidata-se com o apoio do grandioso SLB e tem a vitória mais do que garantida!!!
2 - Nas sondagens também ficou dito que o ministro dos negócios estrangeiros deveria ser o Veiga, para as finanças iria o Simão, economia o Nuno Gomes, o Petit ficaria com a pasta do trabalho, para o Mantorras o ideal seria o ministério da sáude, Luisão administração interna, etc, etc. (Gente capaz e com provas dadas em todos os sectores tem o glorioso com fartura - veja-se a jogatina da noite passada...)!
3 - Se o p.f. primeiro ministro LFV coneguiu erguer um estádio novo e ser campeão com os cofres do partido , aliás, clube, vazios e a cheirar a mofo, também teria competência para fazer do País obra grandiosa (ele e os seus rapazes). A situação económica é semelhante, segundo as crónicas dos entendidos na matéria.
4 - O grandioso quer atingir a "módica" quantia de trezentos mil sócios; com a subida do LFV ao poder seria fácil, se o cartão de sócio do Benfica for adoptado como bilhete de identidade de todos os portugueses. Seriamos milhões, e não o número pequenote que
agora se deseja alcançar...
Não ficou esclarecido como seria possível a todos os associados assitirem aos jogos do glorioso,
mas a senhora que vendia castanhas,
no final do jogo, disse à TV: "...que se lixe a mercadoria, o Benfica ganhou e prontussss..." !

4 de dezembro de 2005

Eu,"pessoa"


Hoje é dia de domingo frio e chove devagar;
eu, sem ocupação suficiente durante a tarde, fiquei preso ao computador
e viajei por mundos desconhecidos ;
como sempre acontece nestes dias friorentos e chuvosos, fico indeciso entre a nostalgia e a saudade;
todos os sentidos saem de mim e fixam-se num ponto do Índico, num outro tempo, numa outra vida, onde eu existia em função da esperança e da expectativa daquilo que não sou agora. Quando regresso, sinto-me perdido,
demoro a reencontrar-me
- mas basta um sinal (domingos frios e chuvosos... ) e volto a ser homem de outro Oceano, mais perto da serra onde me revejo. Por aqui andou Torga, há memórias.
Lembrei-me de Pessoa, que era Fernando,
do que sou, enquanto "pessoa";
e da Ofélia, que sonhei apaixonada!
Volto à biblioteca do disco rígido e descubro Villaret
entre tangos, valsas, sambas, "reggae", rock...
Regressaram os sentidos!
Fernando Pessoa.... João Villaret...
deleito-me com a " Tabacaria" durante dez minutos
e voo cinquenta e sete segundos nas asas da "Liberdade"!
Ainda é domingo.
Talvez ouça de seguida marimbeiros de Zavala num outro som, em perfeita harmonia.
Bayeeeeeeeeeeeete!!!