5 de novembro de 2007

FLORES

À Cristina,no seu dia mais importante, porque gosta de flores
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“…portanto, Hegel tem razão: o belo é coisa espiritual e cada um entende a beleza segundo os contornos da sua sensibilidade…”
Dos bancos da escola sempre fica algo mais do que conhecimento e as memórias estão, por norma, presentes – fazem, até, questão disso!
Dos clássicos da filosofia, gosto do Hegel.
Bem vistas as coisas, à distância de uns anitos, fui “obrigado” a gostar, graças ao empinanço a que a professora obrigava, coisa aborrecida, é bom de imaginar, sobretudo quando a mente viajava para longe da sala de aulas, se estas coincidiam com o fim de tarde, os corpos a pedir praia, porque o calor africano é, como se sabe, assim para o quentinho…
Hegel, entre outras coisas que me deram volta aos neurónios, baralhou-me as ideias quando, do alto da sua cátedra, foi dizendo que o belo é coisa espiritual de cada indivíduo, nunca um objecto material, etc, etc. A sua obra, “A Estética do belo”, que li de fio a pavio, é fascinante; foi pelas ideias do filósofo que encontrei algumas respostas, como por exemplo, gostar de flores, de dar e receber.
Tenho para mim que a flor (seja ela qual for!) é uma dádiva dos deuses para o encantamento do espírito; portanto, Hegel tem razão: o belo é coisa espiritual e cada um entende a beleza segundo os contornos da sua sensibilidade.
Assim sendo (?), a senhora que um dia destes afiançou não gostar de flores, é bem capaz de travar algumas lutas intestinas com o seu (dela) espírito.
Na verdade, fiquei deveras incomodado pela situação que se seguiu: ambos argumentámos, eu em defesa das indefesas criaturas (algumas enfeitam-se de espinhos de modo a cuidarem da sua segurança), a senhora simplesmente… não gosta de flores, e pronto! O amigo que a acompanhava, socorreu-me com preceito, a ponto da disputa das palavras de ambos a ter feito recuar: -“ bem, não é não gostar, não gosto é que me dêem flores”!
Melhor assim. Ou a opinião final foi consciente, e eu retiro as “lutas intestinas” que deixei acima em letra de forma, ou a senhora foi gentil e cordata, não fosse o diabo tecê-las….
De sensibilidade em sensibilidade, “aparecem os mortos”, já defuntos e enterrados, presenteados com flores como é tradição – flores de todos as matizes e formas. Para os vivos, o “seu” dia não teve trabalho oficial, o que foi óptimo para quem fez “ponte” e foi de abalada a outras paragens (no Brasil, diz a Cristina, vai o tempo em que se fazia uma pausa de dois dias, agora basta um, no dia 2).
Os cemitérios ficaram engalanados e não importa se as flores tinham algum significado afectivo para quem ofertou, ou para quem recebeu. Que as campas ficaram decoradas com algum esmero, é verdade…
Eu, que gosto de flores e ainda pertenço ao mundo dos vivos, espero, sinceramente, que os meus amigos continuem fieis aos seus hábitos, sobretudo daqui a uns dias, ainda em Novembro…