23 de junho de 2008

Sebastianista, eu?



“Uma andorinha não faz a primavera”

Ninguém se surpreenderá com o tema desta croniqueta, quando muito dirão que, à falta de assunto, venho carpir mágoas a “quente”, após a derrota da selecção portuguesa no campeonato europeu de futebol. Mas não, tirem daí o sentido: nada de desgostos, porque desde o primeiro jogo que, em silêncio, torci o nariz ao esforço da equipa; não desanimei com o que vi, mas daí até embandeirar em arco com uma vitória no torneio, nem pensar - fiquei comedido e esperançado na sorte que, dizem, protege os audazes.
Certamente foi (também) isso que D. Sebastião levou na bagagem: esperança na sorte e na ajuda divina para levar a bom porto a empreitada de Alcácer Quibir. Os resultados da nefasta epopeia são sobejamente conhecidos e deles, até hoje, não nos livrámos: em quase todos os portugueses há um “sebastianista” convicto… adormecido.

Durante o percurso Viseu / Suiça, até à noite de quinta-feira passada, foi dito e redito que Portugal reunia todas as condições para vencer a final, se lá chegasse, porque era (quase…) a melhor equipa. Infelizmente, ainda não foi desta vez que levámos a “ carta a Garcia” na garupa do “cavalo Lusitano”, simplesmente porque não tínhamos a melhor “cavalaria” para tamanho feito, como D. Sebastião não possuía o melhor exército (em quantidade de efectivos) nem estratégia militar para levar de vencida o inimigo…

Li algures, em tempos, que “… o sebastianismo não se esgota nos âmbitos étnico e nacional, aos quais, quase sistematicamente tem sido confinado…”.
Concordo em absoluto com a tese descrita em várias páginas, com conteúdo histórico, onde se procura demonstrar como o português sempre esteve afeito às coisas da Fé, daí que o desaparecimento de D. Sebastião “…fosse obra do destino…” e o seu regresso uma miragem de quem se sabia “órfão” com a morte de el-rei.
Sem ter a leviandade de arregimentar seguidores – cada um tem a sua ideia, sempre respeitável, como é de bom-tom no regime democrático – estou em acreditar que, neste caso do campeonato da Europa de futebol, a mente de muitos portugueses, esteve confusa entre o amor pátrio e a vontade inequívoca de conquistar o torneio – uma quase certeza, “ como se fosse obra do destino…”!
Idolatrou-se um atleta, como se dependesse dele a “salvação da Pátria Lusa”, e (quase) todos nós acreditámos na genialidade (inquestionável!) do Cristiano Ronaldo, mentor da fé lusitana – qual D. Sebastião! - na conquista do almejado troféu, com algumas semelhanças com o passado dos “conquistadores” Eusébio e Figo, no tempo em foram “reis” sem coroa…
Não se compreendem as diabruras de inúmeros comentários, depois da derrota com a Alemanha. “Éramos obrigados” a mais e melhor, como se, em campo, apenas existisse uma equipa – a nossa!
Bem lá no fundo das nossas consciências, todos somos “sebastianistas” por herança, faz parte da nossa maneira de ser, mas uma andorinha não faz a primavera, na ideia do grego Aristóteles - uma imagem perfeita a sublinhar a prestação do Ronaldo português.

A aposta na vitória de um torneio à escala mundial fica adiada para daqui a dois anos. Entretanto, o Ronaldo “amadurece” e será melhor jogador.
… Possivelmente, o guarda-redes da nossa selecção será outro.

9 de junho de 2008

A preços de saldo

Faz de conta que eu tinha uns tostões amealhados e que, por uma doidice, decidia investir numa equipa de futebol, adquirindo-a por inteiro. Nada de mais, os negócios do futebol estão na moda; assim sendo, bem podia fazer parte da tertúlia do Roman Abramovich, Thaksin Shinawatra, e mais uns quantos camaradas endinheirados – por que não?
Além do clube, havia de ter um terreno para a prática do jogo e, claro, jogadores suficientes para formar uma equipa, suplentes incluídos. Com as economias arrecadadas no cofre-forte, como o “tio Patinhas” sempre fez, contratava uns tantos jogadores “já feitos” e treinador com provas dadas na arte do chuto na bola – e pronto!
Procurar atletas estrangeiros – comunitários ou não – sem passar a fronteira seria fácil: chegam a Portugal às “carradas”, sem carta de chamada, como aconteceu no mês passado … a “preço de saldo”!
“Olheiros” fora de portas, para quê? É mais seguro, fácil e económico escolher a “mercadoria” numa montra, como a que o clube brasileiro “O Cruzeiro” trouxe até nós: vinte dos seus craques – vinte! – para umas partidinhas de forte emoção perante os olhares atentos de presidentes das sades desportivas, empresários, treinadores e investidores como eu, “faz de conta”….
A sibilina aposta no mercado português tem, na minha exagerada e radical opinião, resquícios de um “negócio”, (oficialmente abolido pelos portugueses no dia 12 de Fevereiro de 1761) que nem me atrevo a pronunciar…
Ora, lá pelo Brasil a informação chega tarde, pelos vistos; de outro modo, a “directoria” do clube em causa havia de saber que Portugal (já) é o país do mundo que importa mais jogadores brasileiros, e que muitos deles andam por aí à míngua de “vales por conta” do ordenado que não sabem se irão receber por inteiro…
Voltando ao “faz de conta”, estou em acreditar que na montra do “Cruzeiro” havia nomes garantidos, “com pinta e cheiro a craque”, a saber: Maicon, Emerson, ,Gatti, Rodrigão, Énio, Tallys, Fabinho, entre outros…
O hipotético negócio deu-me uma ideia, igualmente sibilina, mas não importa: e se carregássemos um avião, dos grandalhões, com … sei lá, não me lembro (e se lembro, não digo!) de ninguém em especial, mas podiam ser …os chatos, os políticos carreiristas, por exemplo, e os exportássemos igualmente a preços de saldo, ou mesmo à borla, para a Amazónia? Imagine-se essa malta a “praticar desporto” e outras actividades lúdicas em plena selva ao som e ao ritmo do carimbó!
No entrementes desta croniqueta, não soube de nenhum negócio de ocasião com o clube brasileiro, mas o melhor é fixar os nomes dos futebolistas/candidatos a vedetas, e esperar pelos campeonatos, que estão para breve, lá para o verão.