23 de dezembro de 2008

Que “espírito” de Natal?


Outro ano, mais um Natal e tudo do mesmo, como nos anos anteriores.
É uma época assaz complicada para todos nós, pelo facto de serem difíceis de conter os “assaltos” de que a nossa consciência é vítima, desde logo porque nos fica a dúvida da existência da própria consciência; se a não temos, também não podemos “avaliar as investidas”….
É por esta suspeita que me afoito a assumir alguma dose de cinismo-social-bacoco, confesso, nos tradicionais votos de “boas festas” dirigidos a pessoas que por uma qualquer razão, ou não, deixaram ser próximas na amizade, muitas vezes na consideração, outras merecedoras de repúdio, certamente inimigas pela prática de atos ou palavras.
A época é propícia ao negócio, sem dúvida, até das próprias consciências, mas não pode ser ocasião para alterarmos alguma coisa dos nossos propósitos na defesa dos valores morais.
Um exemplo: não pode existir  confusão entre a liberdade de pensamento e a ação consequente, sob pena de enfeitarmos o que se diz e o que se faz com cores berrantes. Obrigatório, digo eu, é interiorizar sentimentos – todos os sentimentos! – sem deixarmos de ser quem somos, perdoando e esquecendo pequenos nadas durante o ano inteiro e não fazer, agora, disso um propósito de vida, simplesmente porque é Natal!
Assumido um defeito de que não me orgulho, de todo, acredito que tenho uma consciência e, assim sendo, não fico indiferente ao espírito do Natal que brilha no mundo das crianças que, como se sabe, não é, nunca foi, o universo dos mais crescidos. Até a mentirinha do pai natal, para as crianças, “tem sentido”, ainda que marota no exemplo da própria mentira; depois, mais tarde, quando entram na idade da razão, condenamo-las quando usam o embuste para conseguirem os seus objetivos, por mais “inocentes” que sejam...
Por certo haverá tréguas em algumas lutas e batalhas para que se comemore a data no sossego de uma bela comezaina. No dia seguinte, voltam os ódios, tiros, a violência desmedida e as palavras ofensivas, como se o Natal nunca tivesse existido e o descanso das armas fosse uma regra do evento cristão; sempre assim foi, porque havia de ser diferente este ano?
Aquela senhora que às suas custas passa o ano a distribuir alimentos aos pobres de Lisboa, no Natal tem menos ocupação, por que, disse ela na TV, neste período há muita gente a ter a mesma lembrança, mas só nestes dias, depois ela volta à missão a que se devota o ano inteiro; sempre assim foi, porque havia de ser diferente este ano?
Ah, falta referir a festa da família, de que todos (?) gostamos nesta quadra. O Natal é “isso”, sobretudo “isso”, acentuamos. É por “isso” que alguns velhinhos estão depositados nos lares e hospitais… à espera que seja Natal!!!
A hipocrisia tem um sorriso que atenua o peso da consciência, torna-a leve e “feliz”. Mas a dúvida persiste: e quem a não tem?