8 de janeiro de 2008

O cigarrinho e a saúde pública

Cada vez que muda o calendário, anunciando o começo de um novo ano, a conversa da treta é sempre a mesma: “este ano é que vai ser (…), ano novo vida nova…” – palavras e ideias da “tanga”, mas que sustentam a “fé” com que encaramos os dias que se irão seguir, até fechar o ciclo.
A fé, segundo os entendidos na matéria, é uma “coisa” parecida com o vento: não se vê, mas sente-se! Então, se a ventania for medida à velocidade de um ciclone, imagine-se a “força da fé” de quem tem nos sonhos a esperança de um tempo renascido para melhor, claro.
Sou dos que alinham no clube do agnosticismo, mas nem por isso deixo de ser curioso, com algumas reminiscências católicas /apostólicas/ romanas na minha conduta espiritual – uma espécie de contra-senso, dirão, mas as “imperfeições” devem ser assumidas, como esta e outras que não vêm ao caso. Assim sendo, também fiz um brinde ao ano que acabava de chegar, com “fé” e esperança nos novos 366 dias (não esquecer que este ano é bissexto…), esperando o melhor…
Para começar bem o ano -já se sabia - o povo foi confrontado com a lei do cigarrinho e agora, amigos, fumar com deleite à hora da bica só em locais especiais, devidamente (?) seguros para fumadores e não fumadores; isto é: o meu cigarro é meu e só meu, e não tenho nada que distribuir baforadas à borla ao vizinho do lado que, por sua vez, inala com volúpia o fumo do seu e só dele cigarrinho, o que é uma “injustiça”, é bom de ver, porque sou amante de cocktails e, neste caso, não posso “saborear”, cheirando, a mistura de tabaco Virgínia com mais ou menos alcatrão, nicotina e monóxido de carbono.
A Lei é para ser cumprida, não se fala mais nisso nem nos castigos a quem for apanhado com o cigarro ao canto da boca em locais isentos de poluição tabagística – sempre em nome da saúde pública, claro; nós, povo, devemos estar agradecidos a quem se preocupa com a nossa saudinha, não vá o diabo tecê-las.
Quanto aos responsáveis pelos estabelecimentos da restauração e outros que, em liberdade, decidem se devem aplicar a Lei, com as restrições que se conhecem, a “felicidade” é enorme: podem optar por morrer devagar pela falta de clientes (fumadores viciados), por ser da sua responsabilidade a decisão de não fumar nas suas superfícies comerciais, não por estarem preocupado com a saúde pública, óbvio, mas porque não têm capacidade financeira para investir na tecnologia da sucção dos ares viciados; quem aceita que se continue a poluir, cada um lá saberá dos mundinhos onde se move, e a saúde pública, também aqui, é irrelevante…
Ainda a saúde das pessoas e outros animais: imagine-se esta coisa “absurda” (ou talvez não…): em vez de se aumentarem os combustíveis, podia subir o preço dos maços de cigarros sempre que os custos do petróleo disparassem no mercado! Possivelmente haveria mais carros nas estradas e mais acidentes mas, pela certa, o número de fumadores diminuía – tudo em nome da saúde pública, é bom de ver!
E a poluição dos gazes dos escapes? – perguntará o leitor.
Isso seria coisa para se ver depois e, certamente, as insignes inteligências encontrariam uma solução, proibindo “qualquer coisa” que permitisse ao buraco do ozono “respirar” melhor (e nós também)!
Proibir o quê? – a circulação automóvel, por exemplo!
Foi só uma chalaça…
Claro que a saúde pública teria – como tem – “primazia”, como acontece com a remodelação (sim, remodelação, ou será “revolução?...) dos SAPs.
…Outra chalaça
Como estou com “veia”, apetece-me deixar mais uma “dica” a quem manda nas manifs contra as mudanças que o Governo encetou: conhecem aquela musiquinha do Sérgio Godinho “P'ra melhor está bem, está bem, p'ra pior já basta assim…” ?
“Bora” lá cantarolar, afinadinhos, como convêm…