21 de dezembro de 2006

Rosas de Outono

Vilaça
O frio nocturno deste Outono ainda não foi bastante para que os campos se cubram de um manto branco onde morrem os últimos botões das minhas roseiras.
Admiro a beleza de todas as rosas, mas aprecio sobremaneira o tom vermelho escuro das que crescem no meu quintal no tempo próprio, não agora, que nascem tardias, quase a medo, não vá a geada uma noite destas reduzi-las à lembrança da Primavera., o que acontecerá mais cedo ou mais tarde. Um dia destes trouxe do jardim uma dessas rosas de Outono com a intenção de a colocar numa jarra, como sempre faço – um luxo a que me dedico com inusitado prazer. Dada a fragilidade das pétalas, coloquei-a com muito cuidado no banco do "pendura" e fiz-me à estrada sob chuva forte. Os pensamentos teriam pouco sentido porque concentrava toda a atenção no tráfego, apesar de pouco intenso.
Na "estrada real", próximo do "sítio do costume", disse de mim para mim:"com este tempo, não há rameira que aguente a espera de eventuais interessados na aquisição dos seus serviços"!
Puro engano. Depois de uma curva, na berma da estrada, uma figura feminina, esguia, de mini-saia, acoitava-se sob um guarda-chuva. Do outro lado, estava outra, sujeita ao mesmo desconforto. Travei suavemente, o carro continuou a marcha mais devagar, e ao passar por aquela que estava estática junto à minha faixa de rodagem, cruzámos os olhares por breves segundos - tempo suficiente para outra decepção: "mais um que se limitou a olhar " – terá dito para com os seus botões.
Os meus pensamentos foram outros… Que "estórias" não teriam estas mulheres para contar, se lhes fosse pedida justificação para a entrega a tal profissão de riscos anunciados, morais e físicos? Creio que as carências económicas e falta de emprego vinham à cabeça de uma lista com outros itens por demais conhecidos, mas pouco aceites pela sociedade, que usa o prazer mórbido da rotulagem depreciativa como elas o fazem com o corpo: de forma rotineira.
A mulher com quem cruzei olhares tinha o rosto gasto pelo peso dos anos e, naturalmente, dadas as circunstâncias climatéricas, não estaria com a melhor das disposições para se enfeitar com um sorriso; por isso, talvez não conseguisse atrair cavalheiros interessados no negócio do prazer. Então, como num escaparate, expunha o que de melhor tinha para o enlevo da vista: duas pernas roliças e elegantes para excitar a cobiça.
Infelizmente, naquele dia, até o tempo fazia cara feia… Que ninguém me peça opinião sobre este modo de vida, porque, no meu jeito grave e solene, quando é caso disso, opinaria: sendo a prostituição uma realidade reconhecida como a profissão mais antiga da Humanidade (?), por que não obrigar estes agentes do sexo ao seu exercício no recato de quatro pareces e em condições de higiene e segurança? Dirão os eventuais leitores que os hábitos (não) fazem um monge, que isto é prática comum em qualquer parte do mundo, sempre assim foi e continuará a ser – é verdade, mesmo assim não altero o meu sentido de voto.
Não se discute a qualidade e a competência dos intervenientes e muito menos se fará a apologia do chamado sexo de luxo nesta croniqueta despretensiosa – sexo é sexo, seja ele praticado no requinte de um quarto de hotel, ou debaixo de um tecto de miríades de estrelas, ao ar livre. As condições de conforto, higiene e segurança, é que mudam - do pormenor do romantismo dos lençóis de seda a uma flor num solitário, e outros requintes a preceito, para que o negócio se assemelhe a um acto de amor. Regresso à rosa da minha companhia, durante a viagem. Embora frágeis, as pétalas mantiveram-se harmoniosamente juntas.
(Se fosse agora, teria feito uma paragem antes da curva onde perdi de vista a mulher de mini-saia e pernas roliças e oferecia-lhe a rosa de Outono – talvez ela sorrisse…com a minha prenda de Natal)
http://www.correiodabeiraserra.com/

18 de dezembro de 2006

Porque é Natal...


... que a alma Mimosa
da Acácia
continue imaculada
e a mente liberta
de pensamentos tristes
e doloridos.

14 de dezembro de 2006

ENCANTADOR DE "SERPENTES"


Carreguei os braços com dicionários e prontuários, abri caminhos inóspitos na Internet, consultei puristas da minha língua materna e um dia, hoje, resolvi dar por finda a busca do sinónimo da palavra PERSUASIVO. Afinal, os meus conhecimentos gramaticais não são tão superficiais como, erradamente, tinha concluído: dizer que alguém é (foi) PERSUASIVO, é chamar-lhe… talvez HIPNOTIZADOR – um verdadeiro mágico!
Agora a sério: quem PERSUADE determina a vontade de alguém; leva alguém a crer, a aceitar ou a decidir (fazer alguma coisa); induz, instiga, convence, aconselha, etc – segundo "soube" nas fontes a que recorri.
Confesso que não me reconheço com tais predicados, e não me imagino ENCANTADOR DE SERPENTES!
Todo este arrazoado desfaz, a meu ver, a insigne ilusão do amor apaixonado sem retorno. À falta de argumentos, o recurso é, por norma, a invenção de situações análogas aos sentimentos superiores, mas que não passam de retórica justificativa de actos impensados – importa é sair de “alma lavada”, ou fazer como Pilatos, depois de entregar Cristo aos carrascos.
A que propósito vem toda esta confusão de palavras? Simples: apeteceu-me confundir as minhas próprias ideias e fazer deste texto um jogo, e desafio alguém para o dito – basta que sejam descodificadas as pistas que deixo nas entrelinhas e as meias palavras que ficaram por dizer, e facilmente se acerta no alvo, o que garante, à partida, reconhecimento público pela perspicácia, meia dúzia de caramelos e dois bilhetes para ouvir na RFM o Juanes cantar La Camisa Negra !

10 de dezembro de 2006

Coerente, mas pouco

Há sempre nostalgia quando fala dos tempos vividos em África de forma tão natural como as imagens do pôr de sol, sobretudo quando a mistura das cores tem pinceladas de mar.
Não há volta a dar a este amigo, que se assume como "sonhador", e ainda que a vida, agora, lhe sorria desafogada, insiste em continuar preso a um passado, que me afiança "feliz", e toma para si exemplos de vida que nada têm a ver com o tempo presente. Acredita, o meu amigo, que os pequenos nadas aconchegam sentimentos e é por via deles que se atinge (?) determinado karma: "qualquer acção tem uma reacção de força e sentido contrário; se praticamos o mal, a acção retorna na intensidade equivalente ao mal causado." – cita com alguma frequência, como se a filosófica frase resumisse a essência da sua própria vida… e dos outros!
As palavras, escritas e pronunciadas deste modo, podem alterar comportamentos cívicos e morais quando adaptadas por inteiro nos relacionamentos interpessoais, e este meu amigo de longa data, faz por ser coerente com as suas "filosofias", embora, como reconhece, nem sempre disso é capaz, mercê das renúncias a que se vê obrigado a cada passo – a sociedade em que se movimenta tem mais de hipócrita do que leal, e lamenta-se que lhe custa curvar a cerviz, mas pouco (ou nada…) pode fazer para "alterar o sistema" – diz!
Sobre os partidos políticos, não se identifica com a "direita" (existe?), mas também não se considera da "esquerda"(?), e não se revê, de forma nenhuma, na acção política do "centro". É aqui que todas as conversas se cruzam, e as discussões de cariz político/partidário, embora civilizadas, nem sempre têm final feliz, isto é: se ele se aproxima das ideias anárquicas de Buenaventura Durruti, figura da Guerra civil espanhola, ou do famoso Che Guevara, por que não se assume como tal? Terá ele as mesmas convicções?
A Constituição da República traça muito claramente as regras com que somos governados, direitos e deveres de cidadania, e não me parece que o meu amigo encontre no Documento escapatória para os seus devaneios, mas enfim, lá terá as suas razões quando argumenta que nem tudo o que está escrito se cumpre por inteiro, etc, etc…
O anarquismo, enquanto teoria política, de facto, não significa o caos ou a desordem pública. O que me parece é que este amigo anda com os neurónios às avessas, e "lá dentro" (do cérebro) a confusão é total, de tal modo que não encontro nem uma pitada de coerência na sua propaganda "revolucionária" – porque de revolucionário tem muito pouco ou nada. Quando ele intervir na vida da comunidade com arreganho, na tentativa de fazer diferente, para melhor, "revolucionando" o marasmo em que se diz envolvido, então tiro-lhe o meu chapéu.
Como pode um "revolucionário" não assumir as suas diferenças e levá-las à prática? Se lhe basta o cabelo comprido e barba de três dias, então… é mesmo um exemplo acabado do Homem inquieto e descontente que há-de mudar o curso da História! É nesta encruzilhada que me amofino com o meu amigo. A sua nostalgia, é bom de ver, tem resquícios de um certo colonialismo bacoco, já lho disse, olhos nos olhos. E quanto ao seu espírito "revolucionário", estamos conversados…
A citação que reproduzo mais atrás, meu caro, é uma espécie de avestruz que, dizem, perante o perigo, esconde a cabeça e deixa o resto do corpo à mercê do inimigo. Coerente…mas pouco, o meu amigo!
(http://www.correiodabeiraserra.com)

1 de dezembro de 2006

Jaime MARTINS BARATA

Numa velha lenda nórdica,
um cavaleiro pede a um espelho mágico
que lhe mostre
a mais bela cidade da Europa.
E o espelho apresenta
aos seus olhos assombrados
a vista de Lisboa, a Grande,
como antigamente lhe chamavam.

"A obra de Martins Barata
é extraordinariamente numerosa e variada:
selos e moedas que circularam durante anos,
ilustrações, ferramentas, brinquedos,
livros e publicações, pinturas monumentais
(dispersas pelo país e estrangeiro).
Martins Barata foi um verdadeiro
homem da Renascença
"
- está escrito sobre esta figura fantástica, que desconhecia. Tive o privilégio de conhecer uma anciã que lhe serviu de modelo em algumas das suas obras.Fascinante!
Aconselho uma visita.

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