6 de abril de 2009

"Pedra filosofal"

Ler e reler as vezes necessárias, na companhia das palavras do António Gedeão:
"...o amor é tão lícito quanto a vida, faz parte dela;a vida é imaginação,a imaginação recria sonhos, os sonhos comandam a vida...e assim se fecha o circulo de cada um e de todos os que colocam amor na paixão, a paixão no amor, o amor na amizade - há sempre um principio e um fim...
- Haverá?... "

3 de abril de 2009

Nas asas do sonho, a caminho do Piódão

Foto: Ana Rute Ribeiro





Lena”:
Há dias lembrei-te as férias que Agosto coloca no passaporte; este ano, a sugestão do nosso Governo, em nome de todas as crises, é bem clara: vai para fora… cá dentro!
Como o vai/vem das ondas do mar cansa alguns sentidos, e a “tua” serra tem as vertentes pouco íngremes, convidei-te, se bem te lembras, para uma visita ao Piódão, que fica logo ali, do outro lado da “minha”serra.
Se decidires aceitar o convite, ficam garantidos horizontes fascinantes, para lá de todos os montes, precipícios de meter medo e, bem lá no fundo, aldeias inteiras que nem imaginas com vida – mas ela existe, e as pessoas sobrevivem às custas daquilo que a terra dá e pouco mais…
Aconselhava o percurso mais curto; se vieres desses lados, de cima, entras em Coja, segues em frente, sobes para a Cerdeira, continuas a subir sempre… sempre… sempre, e logo vês uma placa: Piódão, para “este lado”, para a esquerda.
Aconselhava, disse, mas desaconselho, porque a estrada está um horror, tens de levar o carro a passo de caracol (o que também não é mau, sempre vês melhor a paisagem, e não arriscas nenhum susto se, em sentido contrário, aparecer pela frente outra viatura).
Mesmo assim, depois deste alerta (a Câmara Municipal de Arganil por certo desconhece a situação em que se encontram os buracos, por isso “sobra” pouca estrada…) se queres, aventura-te.


Se vieres com sede de água fresca, a meio da viagem tens a fonte do “Pião”; pára, da mão fazes concha, e bebes até doer a garganta, porque a água chega gelada.
Com a sensibilidade à flor da pele, já deste como boa a minha sugestão, e ainda não chegaste ao alto do Piódão, falta pouco…
De volta à gincana entre os buracos, não te apresses, … um pouco mais e… parece que te deu uma “coisa”: num segundo ficas com o olhar preso naquele amontoado de casas escuras, muito juntinhas – parecem uma só, com muitas dependências!
Stop!!!
Então, não dizia? Ficaste sem palavras perante o panorama incomensurável que vais guardar para todo o sempre no arquivo da memória!
Antes de desceres (a estrada continua ruim, e lá mais abaixo pior ainda por causa de algumas obras - cuida-te!) deves perfilar-te perante a lembrança dos passos de Miguel Torga, que por ali andou e aí se “despediu de Portugal”, “com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada…”. A “pedra bruta”, com a frase completa está mesmo aí, à tua frente, depois daquelas urzes, vês?
Continua a viagem devagar; se decidires pernoitar, faz a reserva na pousada que fica à tua direita – dizem que o serviço é excelente, nada me diz que o não seja; garanto, isso sim, o silêncio dos montes!
Finalmente, o largo da Igreja! Vê como o monumento tem o branco de todas as purezas, como o gostar de quem gosta do que é puro, como o ar que respiras na “minha” serra!
A partir daqui, não te conduzo os passos, mas vai por mim dar uma palavrinha ao senhor Lourenço, que tem uma venda com o seu nome. Mas só uma palavrinha; se for com a tua cara (é que vai mesmo, sendo tu como és…) não te larga com estórias – mais de mil! - que diz ter escritas em setenta agendas! Já agora, dá um salto ao “Solar dos Pachecos” e prova um dos deliciosos licores que tens à disposição, mas aquilo trepa, se abusares, já sabes...
No regresso, sugiro outra estrada com melhor piso, em direcção a Vide. É mais longe, mas compensa.
A meio caminho, encontras Chãs d’ Égua. Vai com tempo para ficares largos minutos na descoberta de vestígios de Arte Rupestre. E há paisagens de sonho, trabalhadas pelo Homem, casas, pontes, uma delas suspensa, única. Tudo parece arrumado num tempo que se mantém igual, à excepção das estradas e caminhos por onde se chega mais rápido – estradas e caminhos que a população usou para fugir das leiras, das encostas, dos animais que parece nunca terem existido, e das pedras, das pedras com as quais se construíram casas…cobertas de pedras.
A aldeia é linda para quem continua na viagem com a sensibilidade à flor da pele.
Para voltares a casa basta seguires as “placas”, mas se trouxeres o GPS, nem delas precisas!

Convenci-te com a ideia?
Um abraço, que vai daqui até aí.