11 de agosto de 2009

Raul Solnado



Imagem retirada do sítio http://fotodecartao.blogspot.com/ , com a devida vénia
.
Imposssível dizer adeus a alguém que sempre exisiu na minha memória e que, de passagem, "mora na Rua do Grémio Lusitano", ao Bairro Alto.
Dá por mim um dos nossos abraços ao Fausto Correia
Um dia destes, "em pé e à ordem", havemos de gargalhar juntos.

Alberto Martins de Carvalho


A profissão de jornalista em tempos de transição” é um excelente exercício de ideias que o director do Correio da Beira Serra, Henrique Barreto, trouxe à luz do sol – digo bem, luz do sol, porque a liberdade, para ser visível, necessita de “luz”, de preferência a que nos aquece e ilumina de borla.
Vem este propósito de enveredar pelas “ideias dos outros" – como se alguma delas fosse minha! - o facto de ter passado a vista e as mãos pelas doze páginas do número zero de hebdomadário Tábua/Arganil Notícias.Posso ter uma ideia sibilina e permanecer calado, em sossego pela inércia do “não vale a pena, deixa-me estar quieto”, mas não é bem esse o jeito de me fazer entender, na linha de João Carreira Bom, Roby Amorim, e outros ilustres camaradas com quem privei no extinto O Século, ou do Henrique Barreto, amigo de alguns anos, e parece ser, também, o mote de quem dá corpo e (alguma) alma ao novel jornal, nascido “ali ao lado”. Posto isto, vamos ao pormenor (da ideia!) que trago à croniqueta.
Era adolescente quando conheci o insigne pedagogo Alberto Martins de Carvalho, licenciado em Direito e Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra. Quando tomou conhecimento de que tínhamos as mesmas origens (Barril de Alva), procurou-me no Liceu D.João III., em Coimbra; desse (s) encontro (s), guardo poucas memórias.Bastante mais tarde, trinta anos depois de África, fiquei a conhecer com algum pormenor a sua carreira académica, e soube que “… nas décadas de 20 e 30 do século passado, foi um dos grandes vultos intelectuais de Coimbra, privando com nomes como Miguel Torga (a quem apresentou Fernando Valle), Paulo Quintela, Vitorino Nemésio, José Régio e outros…”, (in Universidade Fernando Pessoa). Mais recentemente, com agrado, tomei nota da sua incursão no jornalismo, ao estilo das figuras que são referidas atrás, isto é: sem papas na língua, preciso nas ideias, vincando o seu carácter iluminado de homem livre. Foi assim que fez carreira, nas palavras sábias de Fernando Valle.
Os tempos actuais não são diferentes dos de outrora, quando se manifesta a verticalidade de qualquer cidadão, seja em que circunstância for.No campo específico do jornalismo, existem agora outros suportes para dar a conhecer a notícia, passar ideias, divulgar conhecimentos, e será por aí, sem dúvida, que passa o próximo futuro, talvez em exclusividade, com as edições electrónicas dos jornais a justificarem aposta segura, mas, como refere o director do CBS, “…como todo este conjunto de meios tecnológicos, está indissociavelmente dependente da Internet, é importante que os jornalistas, “em tempos de transição”, se apercebam de como é que este fenómeno comunicacional está a evoluir em Portugal…”.Se fossem vivos e no activo, não tenho qualquer dúvida em acreditar que homens do gabarito intelectual de Roby Amorim, João Carreira Bom, e sobretudo do meu conterrâneo (também) jornalista Alberto Martins de Carvalho – que recordo, para que as memórias não fiquem vazias de si – com facilidade abraçariam as novas tecnologias, usando-as como meio rápido e eficaz de se fazerem ouvir!
Dirão: nada se compara ao folhear do jornal impresso, o cheiro da tinta, enfim… – sou pelo romantismo de algumas tradições, mas quando se trata de divulgar informação, através das edições impressas, o “agora” já é “passado”!Vida longa ao Tábua/Arganil Notícias, que surge nas bancas quando ainda se “chora” o passamento da Comarca de Arganil.

5 de agosto de 2009

A “teoria” da chiclete


O regresso aos discos da Banda do Porto “Táxi”, surge num momento óptimo para animar a campanha eleitoral, que não tarda.
É interessante estar atento à letra do tema “Chiclete” para que o possamos “encaixar” nas coisas mais comezinhas do dia a dia, incluindo a política caseira agora que os partidos se desdobram na construção das listas concorrentes às eleições Autárquicas.
Há uma “estranha sensação” de que para alcançar o poder numa modesta junta de freguesia, vale (quase) tudo, desde importar eleitores, através do recenseamento de residentes eventuais durante fins de semana e/ou férias, à troca de elementos que ainda pertencem à gestão das juntas de freguesia por outros, surripiados à oposição ou não (aqui aplico a minha teoria da chiclete, “… que se prova, mastiga e deita fora, sem demora…”, numa analogia “perfeita”) – importa é que façam parte de um agregado familiar onde se contabilize o maior número de potenciais (e solidários) eleitores, ou de pessoas que “garantam” determinados interesses… pessoais!
Não acontece qualquer ilegalidade na prática destes actos. O que está verdadeiramente em causa, na minha óptica, é a ausência de carácter de quem usa as premissas que a Lei confere, no que ao recenseamento diz respeito, falseando a verdade pela assunção pública de um certo pedantismo, que o povo alimenta, de forma semi-inconsciente, quando lhe falam com palavrinhas mansas…
Por outro lado, ”…de há uns anos a esta parte, o que se nota, em algumas situações, é o regresso de um certo tipo de caciquismo disfarçado em representação democrática. Voltou a “cultura do medo”, fazem-se ameaças veladas “à boca pequena”, promete-se o que é de Lei junto dos mais idosos – logo, mais sensíveis – como se tratasse de uma benesse pessoal, garantem-se empregos invisíveis… “ – escrevi de passagem num outro local, e acrescentei: “…Mais do que ser militante de um partido, por vezes dá “um certo jeito” aos candidatos liderar uma instituição, sobretudo se for de carácter social, ou ser empregador…”!
Infelizmente, esta realidade – entre outras! - afasta os jovens da militância partidária. Dizem eles que “os mais velhos são uns troca-tintas”, que falta competência à maioria dos eleitos… o rol de acusações é extenso!
À eventual pergunta sobre a revitalização (?) de determinado partido, cujo candidato “usou e abusou” da (minha) teoria da chiclete, teria respondido que, no caso, os maus exemplos do líder felizmente não são seguidos pelos “Jotas”, mais esclarecidos e informados e, por isso mesmo, nada motivados para a militância partidária!
Pintam-se os ideais com as cores do arco-íris, mas nem assim se adivinha “bom tempo”…
E como tudo o que é coisa que promete/ A gente vê como uma chiclete…” – cantam os “Táxi”.

22 de junho de 2009

“Palavrões”


Seis horas no hospital à espera de uma consulta, são horas a mais, mas não havia volta a dar-lhe, e quem espera, desespera. Por vezes, quem espera tem um “bónus”, o meu foi uma consulta.
O médico que me recebe é simpático e deve ser muito competente; não apresento queixas, mesmo assim entendeu que o colesterol precisava de uma ajudinha para vir por aí abaixo na escala dos valores que considera ideais para quem tem problemas cardíacos, como é o meu caso. Vai daí, alterou-me a medicação e foi explicando, tintim por tintim, como serão úteis as diversas substâncias que compõem os novos comprimidos, possivelmente minúsculos, como eram os anteriores.
Fixo a posologia, mas quando percorreu caminhos enviesados para o meu entendimento, limito-me a ouvi-lo pronunciar “palavrões” do estilo: Rosuvastantina, Ezetimiba, Perindopril…! Continuo “sem fala”, mas se pergunta “Percebeu?”, quer que lhe responda com um sim, não, ou talvez, e eu sorrio, que é a melhor das respostas quando se é leigo no assunto. Acho que todos nós, os doentes, e mesmo aqueles que o não são, devemos responder sempre ao médico com um sorriso. O doutor não se obriga a grandes explicações, se dissermos “Não, não percebi patavina”, e se dissermos “Sim, senhor doutor, percebi”, ele sabe que estamos a mentir, mas ficamos por ali mesmo, pela nossa ignorância. Portanto, sorrir em tons de amarelo é uma boa resposta (se fosse verde, era sinal de que tínhamos percebido; vermelho, seria o mesmo que dizer “Troque isso por miúdos e numa linguagem que se perceba”).
Um sorriso, como se vê, é a salvação de quem está perante alguém que sabe mais do que nós sobre qualquer coisa, a não ser que estejamos numa sala de aula, onde o mestre tem por missão ensinar; aos alunos, só resta estar atento à matéria, nada de assim-assim no entendimento, como sucedeu há dias, durante uma lição sobre gestão da floresta, que dá sempre jeito a profissionais e a ignorantes (como eu!). Quando a engenheira Tânia falou da Pseudotsuga – um “palavrão” que em alguns casos assume grande porte, se o associarmos a uma espécie de “pinheiro” de jardim – fiquei a saber que é uma mentira apontar a resinosa como familiar do Pinus pinaster, o “nosso” pinheiro bravo”. Tem pinhas, sim senhor, mas isso não lhe confere qualquer parentesco!
Seis horas numa sala de espera, dão para imensa coisa: ler o jornal, partes de um livro, ouvir as conversas dos vizinhos, ou passear o olhar pelos rostos de quem está por ali… à espera. Aproveitei o tempo consoante o cansaço que proporciona a incómoda cadeira; se me concentrava na leitura, de quando em vez, ficava em alvoroço com uma voz de mulher que vinha do altifalante. Era timbrada, e os decibéis, acima da média para o local, preenchiam “violentamente” o espaço.
Ao meu lado, uma senhora, entrada na idade, “ passava pelas brasas”. Tantas vezes se sentiu incomodada com as chamadas, do estilo “António Francisco Simões, sala cinco” (aquilo era rápido, questão de segundos!), entre tremores e um ressonar “simpático”, a dado momento, talvez por estar a meio de um sonho bonito, deu um salto na cadeira e soltou um sonoro desabafo:
-“Ai credo, porra que me assustei”!
Nessa altura estava eu preso à leitura das últimas sobre o “meu” Benfica, depois de ter mergulhado numa crónica do Miguel Esteves Cardoso.
-“Carlos Alberto Ramos, gabinete dois” – chegou a minha vez!
Eram três da tarde.

13 de junho de 2009

Albertina e Dionídio

Para sempre – 50 cartas de amor de todos os tempos”, é uma pequena enciclopédia com mensagens, frases, reflexões e imenso romantismo. O filósofo Jean Jacques Rousseau dizia que elas, as cartas, “começam sem saber o que se vai dizer, e terminam sem saber o que se disse". Álvaro de Campos, foi mais longe e deixou para a posteridade outra frase célebre: “todas as cartas de amor são ridículas…”!
O livro reúne textos de várias personalidades, de Beethoven a Chopin, de Franz Kafka a Fernando Pessoa. Os homens não diferem muito nas questões do coração quando o descobrem apaixonado e, por vezes, retratam o sentimento de forma tão sublime quanto pueril…
Para lá das cartas trocadas pelos amantes, há estórias (de amor) cujos relatos nem sempre têm um final feliz: “Tristão e Isolda”, de autor desconhecido do século XII (?), ou “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, são disso exemplo. Felizmente, tal não aconteceu, em 1945, ao casal Albertina e Dionídio, residentes em Meda de Mouros, aqui bem perto.
A força da paixão dos jovens amantes levou de vencida as contrariedades ao muito bem querer com que enfeitaram os sonhos, como se conta ao correr da pena, surripiado o relato do livro “Meda de Mouros e as suas gentes”, de Salvador da Costa e Luís Castanheira.
Albertina de Jesus e Dionídio Pereira namoriscavam-se e disso não guardavam segredo. O entusiasmo do primeiro amor, naquele tempo, era capaz de quase tudo, excepto contrariar interesses familiares.
Entretanto, Eduardo, viúvo, industrial de panificação, bastante mais velho, entendeu alargar os “apetites apaixonados” e declarou-os à Albertina e aos pais, que se mostraram “sensíveis” aos seus interesses…
- Nunca! – terá dito a conversada do Dionídio.
Porém, a insistência foi tanta que a pobre rapariga, por respeito (ou medo?) aos progenitores, acedeu. Ela e o Eduardo, o viúvo, à socapa, foram comprar o enxoval, mas não se rodearam de grandes cuidados e a notícia não tardou em chegar ao conhecimento do Dionídio que, “…perdido de amor, adoeceu, ficou acamado, recusou alimentar-se e dizia à mãe que morreria se não lhe fossem buscar a Albertina”! A senhora, perante a dor do seu amado filho, implorou aos pais da Albertina que tivessem em conta o amor de ambos, mas de nada valeram as lágrimas, que certamente terá enxugado com uma das pontas do xaile negro com que se cobria. Conta-se, na estória, que a senhora, “com o espírito amargurado, caminhou em clamor pela rua acima…”.
Perante tamanha “safadeza”, dois amigos do apaixonado Dionídio convenceram-no a raptar a amada, e logo engendraram um plano, que passava pela ida da Albertina à fonte, ao anoitecer, onde havia de explicar-se, olhos nos olhos, ao seu Dionídio. Nada consta sobre os pormenores do “rapto”, mas sabe-se que ela deixou a rodilha e o cântaro na fonte e refugiou-se na casa de um dos mentores do acto, o Augusto Lopes.
Luís Pereira, pai da Albertina, não tardou em conhecer a verdadeira “tragédia” e foi em busca da filha, na companhia de dois irmãos desta. Chegados ao refúgio, vem a Albertina e, com lágrimas a rolarem pela face, corajosamente enfrenta os familiares, afiançando-lhes que só se casaria com o Dionídio. Conformados, pai e irmãos, regressaram a casa….
Algum tempo depois, realizou-se o casamento da Albertina e do Dionídio… e foram felizes para sempre!
Do viúvo Eduardo nada mais se sabe. Possivelmente, carpiu mágoas junto à ponte “romana” do Cadoiceiro, em Meda de Mouros…
Agora, aos noventa anos, a memória da dona Albertina já não é o que era. Se fosse, a estória viria inteira!

6 de abril de 2009

"Pedra filosofal"

Ler e reler as vezes necessárias, na companhia das palavras do António Gedeão:
"...o amor é tão lícito quanto a vida, faz parte dela;a vida é imaginação,a imaginação recria sonhos, os sonhos comandam a vida...e assim se fecha o circulo de cada um e de todos os que colocam amor na paixão, a paixão no amor, o amor na amizade - há sempre um principio e um fim...
- Haverá?... "

3 de abril de 2009

Nas asas do sonho, a caminho do Piódão

Foto: Ana Rute Ribeiro





Lena”:
Há dias lembrei-te as férias que Agosto coloca no passaporte; este ano, a sugestão do nosso Governo, em nome de todas as crises, é bem clara: vai para fora… cá dentro!
Como o vai/vem das ondas do mar cansa alguns sentidos, e a “tua” serra tem as vertentes pouco íngremes, convidei-te, se bem te lembras, para uma visita ao Piódão, que fica logo ali, do outro lado da “minha”serra.
Se decidires aceitar o convite, ficam garantidos horizontes fascinantes, para lá de todos os montes, precipícios de meter medo e, bem lá no fundo, aldeias inteiras que nem imaginas com vida – mas ela existe, e as pessoas sobrevivem às custas daquilo que a terra dá e pouco mais…
Aconselhava o percurso mais curto; se vieres desses lados, de cima, entras em Coja, segues em frente, sobes para a Cerdeira, continuas a subir sempre… sempre… sempre, e logo vês uma placa: Piódão, para “este lado”, para a esquerda.
Aconselhava, disse, mas desaconselho, porque a estrada está um horror, tens de levar o carro a passo de caracol (o que também não é mau, sempre vês melhor a paisagem, e não arriscas nenhum susto se, em sentido contrário, aparecer pela frente outra viatura).
Mesmo assim, depois deste alerta (a Câmara Municipal de Arganil por certo desconhece a situação em que se encontram os buracos, por isso “sobra” pouca estrada…) se queres, aventura-te.


Se vieres com sede de água fresca, a meio da viagem tens a fonte do “Pião”; pára, da mão fazes concha, e bebes até doer a garganta, porque a água chega gelada.
Com a sensibilidade à flor da pele, já deste como boa a minha sugestão, e ainda não chegaste ao alto do Piódão, falta pouco…
De volta à gincana entre os buracos, não te apresses, … um pouco mais e… parece que te deu uma “coisa”: num segundo ficas com o olhar preso naquele amontoado de casas escuras, muito juntinhas – parecem uma só, com muitas dependências!
Stop!!!
Então, não dizia? Ficaste sem palavras perante o panorama incomensurável que vais guardar para todo o sempre no arquivo da memória!
Antes de desceres (a estrada continua ruim, e lá mais abaixo pior ainda por causa de algumas obras - cuida-te!) deves perfilar-te perante a lembrança dos passos de Miguel Torga, que por ali andou e aí se “despediu de Portugal”, “com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada…”. A “pedra bruta”, com a frase completa está mesmo aí, à tua frente, depois daquelas urzes, vês?
Continua a viagem devagar; se decidires pernoitar, faz a reserva na pousada que fica à tua direita – dizem que o serviço é excelente, nada me diz que o não seja; garanto, isso sim, o silêncio dos montes!
Finalmente, o largo da Igreja! Vê como o monumento tem o branco de todas as purezas, como o gostar de quem gosta do que é puro, como o ar que respiras na “minha” serra!
A partir daqui, não te conduzo os passos, mas vai por mim dar uma palavrinha ao senhor Lourenço, que tem uma venda com o seu nome. Mas só uma palavrinha; se for com a tua cara (é que vai mesmo, sendo tu como és…) não te larga com estórias – mais de mil! - que diz ter escritas em setenta agendas! Já agora, dá um salto ao “Solar dos Pachecos” e prova um dos deliciosos licores que tens à disposição, mas aquilo trepa, se abusares, já sabes...
No regresso, sugiro outra estrada com melhor piso, em direcção a Vide. É mais longe, mas compensa.
A meio caminho, encontras Chãs d’ Égua. Vai com tempo para ficares largos minutos na descoberta de vestígios de Arte Rupestre. E há paisagens de sonho, trabalhadas pelo Homem, casas, pontes, uma delas suspensa, única. Tudo parece arrumado num tempo que se mantém igual, à excepção das estradas e caminhos por onde se chega mais rápido – estradas e caminhos que a população usou para fugir das leiras, das encostas, dos animais que parece nunca terem existido, e das pedras, das pedras com as quais se construíram casas…cobertas de pedras.
A aldeia é linda para quem continua na viagem com a sensibilidade à flor da pele.
Para voltares a casa basta seguires as “placas”, mas se trouxeres o GPS, nem delas precisas!

Convenci-te com a ideia?
Um abraço, que vai daqui até aí.

22 de março de 2009

A “crise” de agora e “A arte de Furtar” (Séc. XVII)



O programa Prós e Contras da RTP obriga a um manancial de excelentes raciocínios. Quando o tema vai de encontro às minhas preocupações, fico atento do princípio ao fim.
Como responder à crise? – foi a questão em debate segunda feira passada, dia 9.
Os convidados, todos eles especialistas nas matérias associadas, opinaram, mas dali não saiu, a meu ver, nenhuma ideia brilhante, precisa e concisa, mágica até, capaz de solucionar o problema que toca a todos….a todos, virgula, porque a crise não é como o sol quando nasce!
A crise – sejamos justos – é só para alguns, depende! Melhor: cada um tem a sua própria crise, que pode ir da falta de dinheiro à ausência de perspectivas de emprego; sobre outras crises, tão díspares entre si, durante o programa, nenhuma delas mereceu honras de conversa.
Se ficarmos presos às grandes questões da tesouraria, La Palice diria que a crise só atinge…quem tinha milhões e passou a contar tostões!
No debate foi dito que há dificuldades, sim senhor, mas não ”… passa disso”, tudo se há-de compor a seu tempo – era um optimista a dizer “coisas”.
Veio outro especialista poetizar a felicidade merecida com a ideia de que, por essa via, todas as soluções estão ao alcance das nossas mãos, mais coisa menos coisa – era um sonhador a tirar a água do capote, na eventual falta de conhecimentos contabilísticos.
Animado, o programa lá foi por minutos bem contados a caminho do fim…
O mundo está de pernas para o ar, sem dúvida, mas não será o tempo de agora que lhe regista o passamento, apesar de todas as crises – nem o Bandarra o previu nas suas profecias! Portanto, a vida continua, com altos e baixos, como as marés…
Será “pecado” badalar a crise e, mesmo assim, encher os estádios de futebol?
O “nosso” Tony Carreira lotou por duas vezes o Pavilhão Atlântico – que se passa com os pecados dos seus leais seguidores?
Fico-me pelos exemplos de” Gente Feliz com Lágrimas” (perdoe-se a analogia com a obra de João de Melo) porque das duas uma: ou estes milhares de portugueses, amantes da bola e das cantigas do Tony desconhecem a realidade do País e do resto do mundo, ou então são mesmo uns sortudos e não há crise que lhes chegue, por mais desemprego que possa ser contabilizado pelos sindicatos, despedimentos, etc., etc.
Ainda a crise.
Veio parar-me às mãos uma edição gráfica da Gulbenkian, onde se podem ler alguns textos escritos no Século XVII. Um deles, sem nome de autor, intitula-se a “Arte de Furtar”. Ficam os rótulos que encimam alguns capítulos do texto panfletário (?), para merecimento da atenção do leitor:
Como para furtar há arte, que é ciência verdadeira”; “Como a arte de furtar é muito nobre”; “Como os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões”; “Como se furta a título de benefício”, etc.
“… Assim se prova que há arte de furtar; e que esta seja ciência verdadeira é muito mais fácil de provar, ainda que não tenha escola pública, nem doutores graduados que a ensinem em universidade, como têm as outras ciências...” – anotou o escrevinhador, ilustre desconhecido.
Como se fala de crises, bancos sem dinheiro, paraísos fiscais e outras negociatas, o livrinho… nem de propósito, parece ter saído agora do prelo.

3 de março de 2009

Watergate à portuguesa


O Congresso do Partido Socialista chegou ao fim sem estórias para contar numa croniqueta como esta, que foge da política partidária como o diabo da cruz. Mesmo assim, estive atento aos discursos…
O engenheiro Sócrates pediu para as próximas eleições legislativas nova maioria, como estava previsto, portanto…”nenhuma novidade”!
…Novidade é a sua incómoda posição no “caso Freeport”, num tempo em que não são permitidos desvios de atenção na liderança do País.
Há uns tempos a esta parte era de todo impossível imaginar as nuvens negras que lhe cobriram o azul do céu, por onde passeou arrojo nas decisões da governação, quando pouco se sabia sobre a crise que aquecia em banho-maria. Perante o desconforto das notícias que adensaram dúvidas sobre a sua interferência no “negócio” de Alcochete, Sócrates, o cidadão, deu a cara na defesa da sua honra; o político não vacilou e disse ao que vinha: cartas na mesa, e a Justiça que desempenhe o seu papel, de preferência até ao próximo Outono, de modo a que não fiquem dúvidas sobre todas e quaisquer decisões por si tomadas nesse período a que se reporta o escândalo Freeport.
Sócrates está, pois, metido numa alhada do arco-da-velha, que faz mossa e tira o sossego aos seus afazeres no Governo, logo agora que são necessárias – mais do que nunca! - decisões acertadas…
O discurso de abertura do secretário-geral do PS, no Congresso, trouxe uma frase que destaco e é por aí que conduzo o raciocínio: “Em democracia quem governa é quem o povo escolhe, e não um qualquer director de jornal ou uma qualquer estação de televisão…”.
Que o assunto Freeport justifica todas as primeiras páginas e aberturas de telejornais, todos estamos de acordo; que um “escândalo” deste quilate, onde se quer “encaixar” o actual Primeiro-ministro, faz menear as cabeças dos incrédulos, também é verdade; que alguns especialistas dos “media” portugueses são capazes de vender a alma ao diabo, a troco da tentativa de fazer cair o Primeiro-ministro de Portugal, ninguém discute. Quanto mais “sangue” melhor, porque haverá um prémio para quem desfechar o tiro certeiro, de preferência no peito, um pouco descaído para a esquerda…
Não há, no assunto Freeport, semelhança com o caso Watergate, em 1972, que valeu ao presidente americano Richard Nixon uma saída a destempo do cargo que exercia; a haver alguma analogia, só a vamos encontrar na Imprensa, a começar pelo jornal Washington Post, o “pai” de todas as denúncias, depois de investigação com primor.
É sabido que o escândalo foi retratado posteriormente de várias maneiras e feitios, sobretudo no filme “Os Homens do Presidente”, vencedor de quatro Óscares …
…Mas isso foi na América, um país demasiado confuso para a compreensão beirã de um “tuga” como eu...
Em Portugal não haverá, estou certo, nenhum “caso Sócrates” que justifique uma fita de cinema, embora os jornais insistam no sonho de um guião, ao estilo do Washington Post.

27 de fevereiro de 2009

O brinquedo de corcódea

À sombra do meu gostar
Era uma quinta enorme, com terreno de cultivo bordejado de macieiras.E tinha uma casa de arrumos onde guardava as minhas construções de corcódea; a última foi uma miniatura de um carro - de -bois ( o transporte da época para o renovo da quinta, onde se "dava de tudo", como se fala por aqui...).
Em fevereiro de um ano, as terras estavam de pousio e eu também, sem grandes quereres nos meus onze anos, mas fui de livre vontade até onde o navio me deixou, quase um mês depois do adeus a Lisboa.
Lourenço Marques era mesmo uma cidade linda, tão linda que me prendeu nos seus encantos - ainda morro de amores por ela!
Um dia, homem feito, regressei ao meu sítio e voltei à quinta, de visita...para procurar o meu carrinho de corcódea com duas rodas minusculas e umas figurinhas que em nada se assemalhavam a animais de carga, ainda por cima sem chifres - lembro-me muito bem do feitio da minha "escultura"!
Tinha a certeza de que a deixara numa prateleira, ao alcance da minha mão...mas a prateleira estava vazia!
...Regressei há minutos de nova viagem à quinta abandonada, onde agora crescem pinheiros bravos...
Da casa, duas meias paredes e, aberta numa delas, a prateleira "guarda a alma" do meu brinquedo...
"Amén"!

17 de fevereiro de 2009

“Miradouro da Esperança”




Vou puxar a brasa à minha sardinha, com vossa licença…
Inaugurado em 1992 pelo então Secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Amaro, o “Miradouro da Esperança” continua a desempenhar a missão para que foi construído: suster uma inestética barreira, sita na rua principal do meu sítio. Como lhe acrescentaram um passadiço com protecção física, mais ou menos a três quartos da altura, baptizaram-no de mirante, sinal de que dali se descortina horizonte suficiente para saciar a vista, o que não corresponde à verdade. Digamos que tem as “vistas curtas”, para o outro lado da rua, para cima, para baixo e para o alto…
Nunca questionei os autores da ideia sobre o pomposo título; os senhores desse tempo, no meu sítio, lá saberão da sua importância nacional, a ponto de merecer a honra presencial de um membro do Governo na hora de cortar a fita. Adiante – importa a obra que alindou o espaço, e o resto pertence às manigâncias político-partidárias –, nada a acrescentar perante a evidência da pompa e circunstância da inauguração, a que associo um pouco da “Procissão” de António Lopes Ribeiro, poema magistralmente interpretado por João Villaret:
“…Na nossa aldeia, que Deus a proteja, já passou a procissão…”!
Nesse recuado ano, os anseios de alguns dos meus conterrâneos manifestaram-se através da construção de um paredão e do vocábulo esperança! Certamente profetizaram renovado futuro, e nada melhor do que a rigidez do betão para exprimirem, simbolicamente, sentimentos e desejos legítimos. Infelizmente, a aldeia desertifica-se de ano para ano e não se adivinham tempos de fartura. Essa “esperança” evaporou-se…
Por lá, no meu sítio, há casas reconstruídas por quem se apaixonou pela terra, e muitas, imensas casas decrépitas – retrato em sépia de uma realidade confrangedora, O “meu” rio, que agora transborda, no estio abandona-se no leito, mal se espreguiça, e deixou de ser a grande atracção turística pela ausência de caudal capaz de arrastar toda a espécie de porcaria para bem longe das margens. Junta-se ao Mondego perto de Penacova e perde a identidade a caminho do mar. Hoje fui visitá-lo de perto – assusta o turbilhão das águas revoltas!
Junto à “ponte”, a roda de alcatruzes, continua quieta e presa ao eixo, que a há-de mover quando for o tempo de enfeitar a paisagem – utilidade prática é de somenos valor porque não há sementeiras a necessitarem dos seus serviços. No “coração” da aldeia, a última filial dos Grandes Armazéns do Chiado morre devagar, e o mesmo acontece ao palacete da família Nunes dos Santos, fundadores dos célebres armazéns consumidos pelo fogo em 1988.A escola vai encerrar e os alunos serão transferidos para a vila vizinha, a escassos três quilómetros, segundo se diz
Com vida própria, a sede da Associação Filarmónica é a imagem de um povo capaz de grandes gestos de solidariedade – até na manutenção da própria Banda de Música!
A Casa do Povo foi transformada em Centro de Dia e, agora, nas traseiras, ergue-se obra de vulto que irá melhorar as condições da instituição – nem tudo é mau lá no Barril de Alva, de onde venho…
E pronto, disse, mas continuo pensativo e insisto na dúvida: sempre gostaria de saber se alguém já lobrigou do “miradouro” algum tipo de esperança….

3 de fevereiro de 2009

“A última aula” de Randy Pausch


Se me perguntarem se sou feliz, respondo com naturalidade: sim e não – tudo depende do momento em que a pergunta é feita.
Não é necessária definição filosófica para termos a consciência do nosso estado de alma: contentamento, sensação de bem-estar, prazer, e um sem número de nadas que consubstanciam as emoções. Sendo certo que a felicidade chega sempre em pequenas doses e pelas mais diferenciadas vias, quando menos se espera…bate à porta: “…será chuva? Será gente? Gente não é certamente e a chuva não bate assim…” – Augusto Gil.
“Nem é vento com certeza…” mas pode ser a felicidade porque tem um “bater” suave e inebriante, assim:
Decide-se um primeiro encontro e, a páginas tantas, descobrem-se empatias nos olhares que sobram de cada conversa…
Espera-se o conhecimento das feições da pessoa que se adivinha espiritual e sensível na poesia das palavras que junta – o momento de satisfazer a curiosidade é sublime!...
Se “ela” diz que sim, como canta o poeta Viriato da Cruz no “Namoro” (que não me canso de citar!), aquele instante é divino…
A visita inesperada, o aumento de ordenado, uma agradável conversa, um opíparo jantar, uma noite de amor, o nascimento de um filho, … quanta felicidade – até no gesto de um cativante sorriso!
Há, pois, em cada dia – mesmo que a vida se mostre “madrasta” – segundos de prazer que não contabilizamos por manifesta ganância: foi pouco, quase nada – queríamos mais, quase tudo, um “jackpot” constante e permanente!
Se me perguntassem sobre a última vez em que fui feliz, diria: há pouco, quando li um belíssimo texto, embora curto, escrito na sombra do anonimato. Estou como certo sujeito que ia ouvir a “Flauta Mágica” de Mozart e abandonava a sala de seguida: ficava “saciado” para o resto do serão – assim estou eu neste principio de noite…
Pensando bem… continuo moderadamente feliz porque a dor que tinha nas costas já não me apoquenta, a música que ouço “descansa-me” em absoluto, há pouco espreitei pela janela e vi o céu estrelado, o chá de cidreira fumega na chávena, e daqui a nada tentarei adormecer depois de ler umas quantas páginas de um dos livros que tenho à cabeceira, talvez…“A última aula”, de Randy Pausch.
Dizer que estou “moderadamente feliz” implica assumir que, apesar de tudo, alguns pensamentos preocupantes estão adormecidos e talvez despertem, “travestidos em fantasmas”, antes do primeiro sono. Se isso acontecer, conto carneiros – dizem que é remédio santo para adormecer –, é melhor do que somar fantasmas. Acordar depois de uma noite de sobressaltos, não augura nada de bom para as primeiras horas do dia seguinte, o que não impede de sonhar com um bonito dia, mesmo que o céu esteja tapado por nuvens negras e a chuva persista, teimosa…
“Não podemos escolher as cartas que nos são distribuídas, a nossa liberdade reside em saber jogá-las” – Randy Pausch, professor de Ciência Computacional.
Morreu no dia 25 Julho, 2008, com 46 anos, vítima de um cancro no pâncreas
Aconselho vivamente a leitura da “ A última aula”.
… E, por favor, sejam felizes.

28 de janeiro de 2009

O amigo alentejano


Os tempos vão maus, demasiado maus, queixamo-nos em grupo, carpimos mágoas unidos, juntinhos, como os pinguins no Árctico para suportar melhor as tempestades.
Os sorrisos são quase nenhuns, vive-se, sobrevive-se, não há humor de gargalhar; para além dos “Gato Fedorento” é (quase) o deserto – apenas meios sorrisos com “Os Contemporâneos”, o Herman José não escapou à crise e sobram algumas graças do Fernando Mendes no “Preço Certo” – e isso é preocupante.
Não somos um povo alegre, mesmo no Carnaval “abrasileirado”, que está por dias, mas temos queda para associar estórias ao anedotário nacional, mesmo agora, em tempos de crise. Valha-nos isso!
O meu amigo alentejano Davide (com e no fim…), de sotaque a preceito, é excelente contador de anedotas; algumas têm “barbas”, mas como faz a festa por inteiro, do princípio ao fim, sempre a rir e com gestos largos (é um homem sem “crises” - será?), as piadas cheiram a novo. Agora perdi-o de vista, não aparece nas tertúlias que por hábito frequentávamos – o frio da noite leva a “malta” da ESTGOH a recolher cedo (tem dias…) e o alentejano, possivelmente, está em estágio… para os exames! É bom de ver que este amigo é estudante do ensino superior e já me garantiu que há-de voltar para terras de Amareleja com o “canudo” na mão – não duvido que o faça!
O jeitinho para actor é inato; se eu “mandasse”, fazia do Davide um profissional à altura da melhor concorrência do Stand Up Comedy nacional!...
Não é por nada – minto, é por causa das crises! – mas estamos necessitados de sessões de humor que aliviem a penúria da tristeza, mas não há volta a dar ao estado dos sorrisos. Convenhamos, em suma, que rir faz bem à saúde e, li há pouco, pode ajudar a curar certas doenças e aumentar a esperança média de vida, o que é óptimo, a não ser que a pessoa com vontade de viver mais uns anitos esteja às portas da reforma; nesse caso fique sabendo que os pensionistas vão perder um quinto da dita (reforma) até 2050 – quanto maior for a esperança média de vida, menor será o valor da reforma!
Perante factos, quem tem vontade de sorrir, rir ou gargalhar?
Nada a fazer, a Lei “diz que é assim” e… pronto.
Resta o exercício de “estar vivo”, que, só por si, já é uma “dificuldade” que nem sempre temos capacidade para gerir a contento,
…Com urgência, tenho de localizar o meu amigo da Amareleja para ficar ao corrente das últimas anedotas.