21 de outubro de 2011

Já se vai embora?

A tia Deolinda (por parte da minha ex mulher) era uma senhora de uma gentileza sublime; tinha sentido de humor e até os queixumes sobre a sua avançada idade vinham envolvidos em sorrisos. Teria sido uma pessoa divertida e alegre na mocidade e, por razões que nunca questionei, não chegou a constituir família.
Durante os anos em que privámos, sobretudo durante as visitas de cortesia, recebia com um certo requinte: chá, café e bolinhos servidos em louça ”de marca”, toalhas bordadas à mão, mas o melhor de tudo eram as conversas sobre as suas memórias…
Não sendo senhora de frequência diária, sempre que podia assistia à Missa de domingo. Um dia – contava a tia Deolinda - estava tão absorvida nos seus pensamentos que não deu conta que se aproximava o momento da saudação. De repente, a pessoa que estava a seu lado, cumprimentou-a com um aperto de mão e ela, sem saber muito bem que dizer, possivelmente a pensar nas despedidas, continuou, como sempre, a ser gentil e fina no trato com palavras de circunstância, enquanto mantinha a mão que lhe era estendida apertada na sua:
 - Já se vai embora? Fique mais um bocadinho…
“Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto” – terei feito o mesmo, mas a estória da tia Deolinda é verdadeira e faz sorrir, o que, nos dias de agora, dá um certo jeito… por ser de borla.

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