16 de junho de 2006

Uma ideia (pouco) brilhante

Prometi e vou cumprir.
Eis a croniqueta que fiz publicar:
...
"Não que eu seja patriota cego surdo e mudo, capaz de olhar o mundo como os asnos quando usam viseira: o horizonte visto do alto da serra da Estrela não (me) limita o Universo, tão pouco o mar das praias da Figueira “termina” na terra prometida, embora se saiba que, do “outro lado”, existem as Américas…
Portanto, português sim, patriota sim, mas… calma, devagar – tenhamos bom senso e nada de exageros, principalmente quando reivindicamos o que não somos ou o que não temos.
Não somos, por exemplo, um povo “arrumado”, até nas ideias. E também não temos “grandes, geniais ideias”; as excepções confirmam a regra.
As coisas ditas assim, não parecem, mas são mesmo pensamentos radicais! Assumo este radicalismo idiota que por vezes tolhe as (poucas) ideias que gostaria de levar à prática, mas o melhor é deixar em letra de forma os motivos que me trazem a terreiro para esta luta de cegos, mudos e surdos – insisto!
Camões, dizem, inspirou-se na “Eneida” de um “tal” Virgílio e foi por aí fora, de pena em riste, num assomo de Portugalidade impar, escrever “Os Lusíadas”. Se foi ou não inspirado pelo poema épico de Virgílio, não vem ao caso – a “casualidade” advém do facto de ambas as obras enaltecerem as qualidades e o sucesso de um povo, ainda que a “Eneida”, segundo as más línguas, seja um texto político encomendado pelo Imperador César Augusto. Mesmo assim, o talento e o patriotismo do autor ninguém (?) põe em causa.
Já o nosso Camões teve a desdita de “andar por África, Macau… por aí”, coitado, feito amante, escritor e guerreiro, magro de finanças, declamando os seus poemas e esmolando uma tença.
Como se vê, a única (?) diferença entre os dois talentosos autores reside nesta coisa “sem importância”: um escreveu a “Eneida”com o alto patrocínio do Imperador, o outro cantou os feitos gloriosos dos Portugueses sem a ajuda de umas míseras moedas que lhe garantissem a aquisição das penas de pato com que escrevia, e muito menos o sustento.
Outros tempos…
Uns “anitos” após o seu passamento, um iluminado cidadão (honra lhe seja feita), entendeu que o dia 10 de Junho, data da morte do poeta, no futuro, seria lembrado e comemorado como o “Dia de Portugal”.
A História é escrita de trás para a frente: hoje, oficialmente, é considerado o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades. Assim, ao Camões e aos feitos dos portugueses de antanho, anexou-se a imagem dos milhões de portugueses que mourejam pelo mundo. Tem lógica, e de uma penada “escreve-se” um País naquilo que temos de mais sublime: por um lado, a saudade dos familiares e amigos distantes, por outro, a honra do que fomos e somos como Nação independente!
Como se não fosse bastante juntar Camões e o ser português na essência Universal, atrevo-me a um “cocktail” ainda mais apetitoso e “misturo” um “sujeito, pouco conhecido”, que deu pelo nome de Fernando Pessoa. “Parece que escreveu” uns “livritos”, fez uns poemas e deixou para a posteridade umas quantas frases que se vão fixando como lapidares. Lembro-me de uma, com que me identifico enquanto português “cidadão do mundo” com vivência africana e cultura europeia:
A minha Pátria é a Língua Portuguesa”!
Estamos em Junho. Lembro-me que em tempos desfilei de camisa verde, calções de caqui e bivaque castanho na cabeça, desde o ex Liceu D. João III até à Igreja de Santa Cruz, em Coimbra. Chovia imenso e éramos muitos naquela estranha. “tropa” . Apesar disso, senti-me honrado por ter participado no desfile – era o dia da Pátria, que a professora Georgina ensinara a amar!
Mudam-se os tempos, mudam-se… os ideais, talvez o patriotismo, de certeza o amor pela língua pátria, e nem vale a pena recordar Camões, Pessoa, Eça, Torga…. a (minha) professora Georgina., o (nosso) historiador Pina Martins…
…Na edição online do dia 8 do C.B.S. li que o Deputado Municipal, João Dinis, protestou, publicamente, contra a realização da “1ª Festa do Inglês”, que teve lugar a 10 de Junho, frisando que “… aquela iniciativa do município oliveirense no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, é “completamente descabida…”!
Pois.
(E prontussss: a ideia foi bué da fixe e o people curtiu)"!

10 comentários:

  1. Foi importante ler-te. Obrigada.

    :) BFS

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  2. Correu tão bem esta tua escrita!

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  3. "Bem dezido", tio C.
    Os tempos mudam... para pior a maioria das vezes...
    No meu tempo (e eu que não sou velha!) os exames de português também eram escritos, com perguntas de desenvolvimento.
    Agora os exames de 12º são de escolha multipla, verdadeiros e falsos e correspondência!
    Onde é que já se viu!
    Aquele beijito!

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  4. Magnífico texto, espantosas verdades, GRANDE poeta, POVO escrito com letra grande, tão bem cantado por ele...
    Gostei muito da tua crónica...
    Para quando mais????
    Não demores, é pena ficares tanto tempo....na sorna!!!!!
    Bjinho

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  5. Ó Cuco... Pois dá a morada daquele pardieiro (antro) em que se transformou a minha casota e não se queixe depois dos conselhos que dou aos mais novos. Ai não, não!

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  6. Template discreto, boa música, bons textos.

    Quando é que há mais?

    Vou voltando.

    :)

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  7. quando há mais??? oh! este senhor é muuuuuiiiito preguiçoso!

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