18 de fevereiro de 2008

“Chiquelinas” na bola




Dos tempos da escola primária sobraram uns quantos resquícios da “inimizade que fui mantendo” com os vizinhos espanhóis, por culpa das estórias que a História de Portugal ensinava, é bom de ver, e não por quaisquer outros motivos…
Com o mar a bordejar a costa, só da Espanha poderia vir o perigo em passada larga ou curta (pensava eu…), daí que fazia algum sentido o aforismo: “De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos”. E foi assim durante anos, sempre com a perversa imagem que vinha de longe, pela fé e maledicência dos mais velhos.
À medida que o tempo foi passando, as ideias clarificaram-se, África atravessou-se no meu caminho, cresci como homem, e concluí com toda a naturalidade que fomos tão “safardanas” como as gentes de todos os sítios e de todos os tempos, espanhóis incluídos. Conheci de perto uma mão cheia deles, viajei por caminos e carreteras, partilhei costumes cívicos idênticos aos nossos, enfim, habituei-me a “gostar”. E como vão ter uma rainha charmosa, de nome Letícia, agora sou ligeiramente espanhol…
Espanha, na verdade, “mete num bolso o país que somos” em termos de espaço geográfico, tem população bastante para ser considerada uma grande Nação, e está uns furos acima de nós nos argumentos económicos Assim, se lhes der na real gana, metem mãos à obra e movem montanhas (ou quase…)!
Portugal, embora país pequeno, com menos cidadãos por metro quadrado, também é capaz de subir aos “píncaros da lua” e, sozinho, sem parcerias, “levar a carta Garcia” com qualidade, dignidade e sucesso, o que muito nos honra - casos da Expo.98 e do europeu de futebol de 2004, por exemplo!
Entrementes, leio e ouço que o presidente da Federação Portuguesa de Futebol teve a ideia peregrina de “sugerir” à sua congénere espanhola a realização conjunta do campeonato mundial de futebol de 2018.
Boa, pensei! - andamos necessitados de novas adrenalinas e se começarmos desde já a puxar o lustro às botas, daqui a dez anos vai ser um regalo, melhor que em 2004, digo eu, talvez sem Scolari, mas certamente com Mourinho ao leme da selecção! O pior é se a “porca torce o rabo” e a candidatura conjunta não passar das intenções do presidente da federação nacional portuguesa…
Pensando bem, sou capaz de descortinar um “pequeno senão” na proposição da candidatura, com origem lusitana: se os espanhóis concordarem com a ideia, são capazes de dizer por aí que somos uns coitados, vamos a reboque dos poderosos e em minoria; se os nossos vizinhos disserem “obrigadinho, mas não estamos interessados, concorremos sozinhos”, outras vozes se hão-de levantar para carpir a vergonha nacional, face à (eventual) rejeição…
Usando linguagem tauromáquica: e se fossemos à “luta” sem "muletazos" espanhóis?

2 comentários:

  1. Caro Vilaç:
    Não sei se devamos ir, com ou sem espanhóis.
    Penso que o Dr. Madail não pode andar a sugerir aquilo que não pode pagar.
    Um abraço.

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  2. É interessante constatar que os aforismos tendem a desaparecer da nossa vida, esses tipos de expressão literária estandardizada e metafórica perduram e ganham credibelidade. Porquê? Sem dúvida em virtude do «menor esforço» e da estandardização em que assentam.

    " cada um só goza a paz que o vizinho quer"

    "na terra dos cegos quem tem olho é rei"
    "em Fevereiro entra o sol em cada rigueiro"

    Abraço
    Paulo.

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