
Agosto está no fim, e quanto a férias, ficamos por aqui.
Ter ou não ter (férias) é apenas o pretexto para uma croniqueta de ocasião, no seguimento da anterior que, pelos vistos, foi “subscrita” por número elevado de concidadãos - a maioria dos meus amigos também não usufruiu do tal tempo de folga, descanso, repouso, ou, como leio no dicionário da “Universal”, de dias de suspensão dos trabalhos oficiais!
O tema parece de somenos importância, mas é o que me vem à ideia e é interessante, apesar de tudo (e neste tudo incluo a crise económica da maioria das bolsas caseiras!).
Felizmente, a maior parte dos empregados por conta de outrem teve direito às ditas (férias), e se não deram um saltinho à Figueira ou às praias vizinhas, não foi por partilharem dos meus ódios de estimação: “areia em demasia, água salgada, e o mar revoltado, ora para trás ora para a frente, sempre em bolandas”! Não, o motivo por que passaram as férias por cá, entre um mergulho no rio ou na piscina, e um passeio pelos jardins, sobretudo nas noites mais quentes deste Agosto, tem a ver com a doença dos bolsos vazios!
Como se sabe, a nossa cidade não prima pela oferta de animação em quantidade e qualidade, daí que os turistas não incluam Oliveira do Hospital no seu roteiro. Durante o dia, ainda se viu gente a passear por algumas ruas, fizeram-se compras, mas o comércio em geral, se estava mal, mal continuou, e nem os saldos e os descontos especiais tiraram a ”barriga da miséria” aos investidores de porta aberta.
Na rua do Colégio, o movimento de transeuntes teve picos interessantes e gostei de ver algumas pessoas a repousar nos bancos ali colocados. Duas senhoras sentaram-se perto de mim; como vinham de conversa afiada sobre a cidade, assim continuaram: “Oliveira estava diferente, para pior, que a maioria das lojas dos dois centros comerciais estavam encerradas, era uma pena, pouca oferta, e a qualidade dos produtos expostos também…”, enfim a lista das lamúrias era extensa. Tanto ouvi que desisti. Levantei-me e desci a rua.
Ah, mas o maior motivo de espanto era o novo edifício da Caixa de Crédito Agrícola! Para uns, um “trambolho”, um verdadeiro “mamarracho”; para outros um novo “ex-libris” da cidade!
Entretanto, fiquei de conversa miúda com dois amigos, ali mesmo, perto dos que opinavam.
- Gostam? – perguntei a um grupo de basbaques.
- É um edifico interessante, sem dúvida., moderno, arrojado, fica bem entre a “monotonia” dos restantes prédios – respondeu um dos cavalheiros.
A senhora, curiosa:
- Mas se a entrada é da parte de baixo, e como esta porta está fechada, funcionam alguns serviços deste lado? Expliquei que “deste lado” havia um auditório com todos os requisitos modernos, etc.
Diz a senhora:
- Parece-me um espaço interessante para ser usado como local para exposições, por exemplo.
Obviamente, concordei!
Arredondámos a conversa com uma frase feita: até à próxima!
Subi a rua e fui ao Café Portugal apostar coisa pouca no “euromilhões”.
-Boas tardes! – disse eu à chegada.
-Boas tardes! – respondeu o Sr. Carlos, do Café.
Àquela hora, encostados ao balcão, estavam num colóquio dois presumíveis clientes; um, deu dois passos, estendeu-me a mão e foi simpático e gentil no cumprimento. O outro olhou de soslaio, e por aí se ficou, disposto a voltar à conversa, entretanto interrompida.
Reconheci a figura pelo porte, mas como o cavalheiro nunca me foi apresentado, não dei importância à falta do institucional e politicamente correcto “boa tarde”, embora entenda que “um pastor deve conhecer as ovelhas (salvo seja!) do seu rebanho” e os seus mimos repartidos por todas, sejam elas de cor branca, preta, vermelha ou laranja!...Com um “pastor” assim, é natural que algumas “das suas ovelhas” andem tresmalhadas…
Paguei a aposta do jogo, dei meia volta, saí calado, e só parei na “Silmoda” para ver os saldos (está na montra um “pólo” vermelho que tenho “atravessado na carteira”; infelizmente a “Lacoste” também não foi de férias, os preços mantêm-se, para meu “desgosto”) …
Se me sair o “euromilhões”, compro a peça de roupa e volto ao Café com ela vestida. Sempre quero ver se o “ pastor” me reconhece pela cor do “pólo”…