Tenho um retrato de mim à vista, mas não me reconheço quando o fito, pausadamente ou de forma fugidia. Nos traços do rosto não há sinais de caminhadas e nas pupilas não vislumbro lampejos de felicidade; até o meio sorriso pouco diz…
Houve um tempo de balanço, quando as esperanças definharam, com resultados positivos. Agora, se desnudo a alma e a deixo por aí, carpindo mágoas e mendigando gestos de afagos, fico sem saber quem sou, quem fui, e quanto ao dia seguinte, não vislumbro mudança de opinião – apenas a expectativa do que possa suceder entre a manhã e a madrugada, faz com que fique atento.
Se o retrato pouco diz (?) e a alma inquieta não veste sinais de esperança, que farei com este corpo?
As palavras, arranco-as do mais recôndito refúgio e espalho-as por aí, a esmo - talvez alguma germine em terra árida, fecundando-a de emoções, embora tardias…
Perante as dúvidas do ego, decido-me pela descoberta do outro “eu”, ao espelho, mas não vejo o cordão umbilical que me amarra à vida.
Terei passado ao Oriente Eterno? Se assim é, o corpo, que não tinha utilidade visível, está no sítio certo – o tempo se encarregará de apagar das memórias as minhas coisinhas miúdas, e talvez ganhe rótulo de “bom sujeito”, mas pouco lúcido.
A alma, quero-a imortal, mas sem lembranças do último adeus.
A lucidez é a loucura absoluta. A real. A que conduz a internamento.
ResponderEliminarBelo texto ainda que com carga elétrica de tempestade.
Podes sorrir isto está cercado de palhaços apostado em fazer-nos rir.
Por mim, quando eu terminar venha o dilúvio, e chamem-me o que bem lhes apetecer.
:)
Boa semana.
Todos temos estes diálogos com o espelho, com muitos espelhos que a vida nos mostra, mas poucos sabem transcrevê-lo assim.
ResponderEliminarGostei muito.
Um abraço de amizade.
O corpo para nada mais serve se não para nos dar a ideia do físico... (que pouco importa)
ResponderEliminarO importante é alma! o importante são os conhecimentos adquiridos, a forma como experienciamos e vivemos o físico! Isso importa o corpo não passa de um mero objecto!
Se não fosse a sua alma e pureza que emana nas palavras que diz, o que seria de mim e do "nós" que ainda persiste?!
Valorize-se!
Um beijo da sobrinha!
OLÁ
ResponderEliminarA alma ainda cá está porque a lucidez com que te descreves é grande. Está é magoada e ainda não sabe como ultrapassar. Porque é difícil.
ResponderEliminarUm texto belíssimo
Inquietações...Ansiedade...Desencontros
ResponderEliminarMas... A Tua "semente" germinará com FORÇA em "terra árida"... Com Coragem!
Bjos
Bela alma, sim senhor!
ResponderEliminarLembro-me da estreia desta música. Pombas, que actual continua!
Estive aqui um bocado a curtir o teu blog.
Abraço