5 de novembro de 2025

Uma Viagem ao Sítio dos Cinzentos



Em abril de 2007, dia 9, ainda combalido, publiquei um (pequeno) texto onde prometi contar a "minha grande viagem" ao "Sitio dos Cinzentos" .
Dezoito anos depois, na proximidade de uma outra data que considero importante, resumo o que poderia ter sido um drama pessoal e familiar - não foi, felizmente, mas alterou definitivamente o meu modo de viver.

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https://ritualmente.blogspot.com/2007/04/morrer-devagar.html#comment-form


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Uma Viagem ao Sítio dos Cinzentos

No Domingo de Ramos, 1 de abril de 2007, iniciei a mais inesperada das "viagens". Não foi num carro nem num comboio, mas para um sítio pincelado de cinzentos, onde a quietude se fazia cor. Ao "chegar", senti uma paz profunda, uma estranha familiaridade que me fez gostar instantaneamente daquele cenário etéreo.

E, assim, "adormeci".

O tempo deixou de ter medida enquanto o meu cérebro projetava um "filme" sem cortes — uma galeria de memórias, belas e agradáveis, que se desenrolavam numa doçura esquecida. Não sei se foram minutos ou a eternidade, mas ao tatear o "regresso, ainda inconsciente", persistia a convicção: aquele "sítio era do meu agrado"; eu ansiava por ali permanecer.

O véu da inconsciência foi rasgado por uma urgência terrena. Sem tempo determinado, um enfermeiro irrompeu, viril na sua missão, sacudindo-me de volta com um imperativo:

— Senhor Carlos, acorde!!!

"Acordei", mas o despertar trouxe consigo um peso brutal. Era como se a "pata de um paquiderme" se tivesse abatido sobre o meu lado esquerdo, esmagando o pensamento e silenciando a recém-encontrada quietude. Esse peso lançou-me, possivelmente, noutras "paragens" de onde só emergi deitado na maca das urgências dos HUC.

A partir daquele momento, a perspetiva inverteu-se. Afinal, a vida é uma sequência contínua de feitos extraordinários. Nascemos "depois de um milagre", e a nossa existência desenrola-se numa bolha onde os "milagres acontecem" a cada respiração. A jornada só termina quando o coração, essa máquina incansável, se cansa de ser "milagreiro".

O meu (coração), aos oitenta anos, continua a sua obra. Pulsa, resistente, todos os dias, recusando-se a cessar o seu ofício.

Bem-haja, coração, por cada batida que é um recomeço.

Texto com a ajuda do "milagre"da IA

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